O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou que o ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, já deveria ter recebido o bilhete azul do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em função do suposto envolvimento na máfia das fraudes em obras públicas, conforme das investigações da Polícia Federal batizadas de Operação Navalha. Em entrevista exclusiva concedida no final da tarde desta terça-feira (22) ao apresentador Luiz Motta, do Jornal Eldorado 2ª edição, FHC destacou: "O ministro (Rondeau) já deveria ter pedido demissão porque constrange o presidente da República. E o presidente (Lula) não deve se sentir constrangido deve dar o bilhete azul, não tenha dúvida.
FHC destacou que essa situação (a do suposto envolvimento do ministro no escândalo) é inaceitável. "Eu não acompanhei no dia-a-dia, mas vi imagens na televisão que são comprometedoras. Não posso dizer que o ministro recebeu ou não (propina), mas alguém parece ter levado recursos. Isso é inaceitável", emendou. E disse que se ficar provado que o afastamento de Rondeau foi injusto, "faz-se o reconhecimento do erro". No seu entender, o País precisa do sentimento de que quando há uma coisa errada, quem fez o erro paga.
FHC citou o caso de Eduardo Jorge, ex-secretário geral da Presidência da República de sua gestão, que teve o nome envolvido em denúncias. "Ele foi vítima de perseguição cruel, quando não era mais do meu governo. E foi à Justiça, acabou de ganhar de novo (causa contra seus denunciantes) dos fiscais e procuradores que o perseguiram. Provou que não (fez) nada de errado." E continuou: "As pessoas têm que lutar, se o ministro Rondeau não tem culpa no cartório, ele deve demonstrar que não tem culpa no cartório. O governo não pode ficar com uma chaga, uma ferida aberta o tempo todo e colocando esparadrapo.
Na entrevista exclusiva ao Jornal Eldorado 2ª edição, FHC foi questionado sobre o fato de nove partidos, incluindo o PSDB, através do governador de Alagoas, Teotonio Vilela Filho, estarem envolvidos nas denúncias de suposto envolvimento na máfia das fraudes em obras públicas. "Que eu saiba, o governador Teotonio não está sendo investigado, são pessoas nomeadas por ele, por indicação de terceiros, mas isso não exclui ele de tomar uma posição firme e desligar essa gente do governo," destacou o ex-presidente.
Na sua avaliação, esses escândalos estão ligados à forma como se faz orçamento no Brasil. "Chegou o momento de repensar um outro mecanismo de fazer Orçamento", defendeu Fernando Henrique. Um mecanismo, explicou, que não dependa de liberações parciais e de emendas individuais de parlamentares. E alfinetou: "O governo usa o Orçamento como instrumento para ajudar um e não o outro e aí vêm as pressões." Indagado sobre a execução do orçamento em seu governo, FHC respondeu: "Tínhamos um critério menos político de liberação de verba. O governo era mais democrático nesse sentido e diminuía a necessidade de haver conchavos tão fortes como há agora." E disse que em sua gestão "nunca houve o envolvimento de ministros e de pessoas ligadas diretamente à máquina de governo respaldando essas posições.