Em uma safra com clima extremamente favorável à evolução da ferrugem asiática da soja, especialistas são unânimes em afirmar que a doença reduziu a produtividade e elevou significativamente o custo de produção das principais regiões produtoras de soja no Brasil. Até mesmo no Paraná, onde a doença ainda não havia sido tão agressiva, a ferrugem teve uma expansão bem característica nas regiões norte e centro-sul do Estado, configurando-se como uma epidemia, ou seja, de ocorrência generalizada e alta agressividade.
?Os níveis de danos ainda não podem ser estimados, mas houve um aumento do custo de produção e relatos de produtores paranaenses que tiveram que fazer até três aplicações para o controle da doença?, observa Cláudia Godoy, pesquisadora da Embrapa Soja.
A situação mais crítica ocorreu nos estados de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. O aparecimento precoce da ferrugem na safra atingiu lavouras ainda no estádio vegetativo, aumentando tanto o custo de produção em função do aumento no número de operações para controle, como a pressão do fungo em áreas vizinhas. Há relatos de produtores que necessitaram de cinco aplicações para o controle da doença. Esses estados têm ainda um agravante: além das condições climáticas serem extremamente favoráveis ao desenvolvimento da ferrugem, o cultivo da soja na entressafra, irrigada por pivôs, proporciona o efeito chamado de ponte-verde, que faz com que o fungo continue se multiplicando num período em poderia estar diminuindo naturalmente.
Para o pesquisador da Embrapa Soja, Paulino José Melo Andrade, que atua na região nordeste do Mato Grosso do Sul, dois fatores podem ter ajudado a agravar os prejuízos causados pela ferrugem. ?As condições climáticas estavam favoráveis, mas muitos agricultores falharam no controle por utilizarem aplicações calendarizadas, em R2 (floração), com nova aplicação 20 dias depois. Em muitas dessas propriedades, a primeira aplicação acabou ocorrendo tarde demais?, avalia.
O outro fator é a redução da vazão dos pulverizadores terrestres. ?Tivemos agricultores utilizando até 30 litros, quando o normal é de 150 a 200 litros de calda por hectare?, explica Paulino.
Resistência aos produtos
Durante a safra, surgiram especulações de que poderia estar ocorrendo processo de seleção para resistência da ferrugem aos fungicidas, no entanto, ainda não houve comprovação para essa suposição. ?Na maioria das vezes, o insucesso está relacionado ao momento inicial de controle. Percebemos que, em muitas vezes, o agricultor ainda se confunde e o controle é iniciado quando os sintomas estão em um nível mais avançado?, explica José Nunes Júnior, fitopatologista de uma das entidades que integram o Programa Estadual de Manejo e Controle de Pragas da Soja-Soja Protegida.
?A falta de domínio das tecnologias de aplicação de defensivos agrícolas, a prática recorrente de uso de misturas de produtos ou doses abaixo da recomendada pelo fabricante também foram práticas recorrentes nessa safra e deixaram prejuízo no bolso do produtor?, avalia Claudine Santos Seixas, pesquisadora da Embrapa Soja.
A ferrugem já causou prejuízos estimados de US$ 5 bilhões, desde 2002, considerando os custos da soja, da operação de aplicação e dos produtos, além da perda de arrecadação em função da quebra de produtividade.
Desafios da lavoura em debate
Cerca de 400 produtores e profissionais da assistência técnica são esperados no 4.º Encontro Regional da Cultura da Soja que será realizado, no dia 12 de abril, das 8h às 13 horas, no Auditório Milton Alcover, no Parque de Exposição Ney Braga, durante a 46.ª Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina.
O objetivo do evento é discutir os principais problemas da sojicultura e aprimorar o conhecimento técnico dos participantes sobre a produção da soja no norte do Paraná. Por isso, a comissão organizadora definiu como temas estratégicos questões que envolvam o mercado de grãos e aspectos relacionados ao clima. ?Também serão debatidos o aprimoramento do controle da ferrugem asiática da soja, a escolha adequada de uma cultivar e ainda vamos apresentar um cenário do manejo de plantas daninhas em soja RR?, informa um dos organizadores do evento, Fernando Adegas, da Emater-PR.
O evento é uma promoção da Emater-PR, da Embrapa Soja, da Cooperativa Corol, da Cooperativa Integrada e da Fundação Meridional. As inscrições devem ser feitas até o dia 11 de abril, no escritório da Emater-PR, em Londrina, onde será disponibilizado o convite, que garante entrada gratuita ao Parque de Exposição. Mais informações pelo telefone (43) 3441-1411.
