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Uma das oficinas realizadas no Festival de Arte da Rede Estudantil (Fera) que tem chamado muita atenção dos alunos é a de hip-hop, na qual aproximadamente 450 alunos estão aprendendo a dançar ao som dos ritmos da chamada " black music". O Fera está sendo realizado em frente ao Palácio Iguaçu, em Curitiba, até a próxima quarta-feira.
Segundo Octávio Nassur Ramos de Oliveira, professor da oficina, o hip-hop é muito procurado pelos alunos. "Trabalhamos a cultura do movimento hip-hop junto com o desenvolvimento corporal, por meio da linguagem musical", disse. De acordo com Octávio, os alunos estão aprendendo conceitos que lhes serão úteis no futuro. "É nesta idade que eles começam a desenvolver a consciência corporal, por isso trabalhamos com a importância do aquecimento e o funcionamento da musculatura", contou.
Na oficina há todo tipo de aluno, desde os que nunca tiveram acesso à modalidade de dança, quanto os que já a praticam há algum tempo. Daniel Pompeu, 19, e Gilberto Ferreira, 16, alunos do Colégio Estadual Casemiro de Abreu, de Porto Vitória, contam que nunca tinham dançado o estilo hip-hop ensinado por Octávio Nassur, apesar de ambos integrarem um grupo de street dance chamado "Evolution" ? com o qual participarão nas apresentações realizadas por grupos de alunos no Fera.
"A oficina é muito boa. Estou aprendendo muitos passos diferentes. Está servindo como um aprimoramento", disse Gilberto.
Destaque
Alguns alunos destacaram-se bastante na oficina, mas estes já têm um grupo de hip-hop, o MH²P ? Movimento Hip-Hop de Paranaguá, que fez uma apresentação no final da aula, mostrando um hip-hop com passos acrobáticos.
Para Julio César Lacerda, 26, estudante do Colégio Estadual Caetano Munhoz da Rocha, que já pratica a modalidade há 18 anos, participar da oficina está sendo muito proveitoso. "Além de aprender alguns passos novos, estamos tendo a oportunidade de mostrar aos demais alunos o trabalho que realizamos na nossa cidade", contou.
De acordo com Julio, o grupo realiza um trabalho voltado a retirar os adolescentes da rua, ensinar alunos interessados e combater o uso de drogas lícitas e ilícitas.
"Temos organizado oficinas onde os alunos têm a chance de aprender os elementos que compõem o hip-hop ? grafite, rap, dança e skratch (fazer música a partir de dois toca-discos onde um é responsável pela base e o outro pela improvisação)", afirmou. Julio contou que o grupo foi formado em 1998 e atualmente congrega alunos de três escolas de Paranaguá.
Movimento hip-hop nasceu na Jamaica
A cultura do hip-hop é baseada em quatro elementos: o rap, do inglês rhythm and poetry (ritmo e poesia), que é a letra através da qual são transmitidas mensagens; a música, que é o veículo através do qual se transmite a mensagem; o grafite, que é a manifestação gráfica geralmente pintada em muros; e a dança, conhecida como break ou street dance.
O movimento teve sua origem na Jamaica, nos anos 60, de onde partiram seus criadores rumo aos subúrbios nova-iorquinos. Um deles, o disk-jóquei Kool Herc, foi o responsável pela introdução do rap quando inventava letras que declamava durantes as músicas que tocava em bailes de rua. Essas letras variavam de simples chamadas para que todos dançassem até mensagens de conteúdo político.
Nos Estados Unidos, o hip-hop começou a ser utilizado como uma forma de expressão política das populações afro-descendentes. A luta pelo reconhecimento sócio-político dos negros incorporou essa manifestação cultural e não é à toa que uma das referências ideológicas do movimento foi Malcolm X, um dos mais importantes líderes dessa luta.
No Brasil, o movimento encontrou sua maior expressão em São Paulo, nos anos 80, quando alguns jovens se reuniam numa estação do metrô, a estação São Bento, para dançar o break. Entre eles estavam Thaíde e Mano Brown, líder do "Racionais MCs", dois dos mais importantes nomes do rap nacional desde então.
O movimento tem discutido, nos últimos anos, a natureza de sua inserção no cenário sócio-cultural brasileiro. Uma das questões que mais tem esquentado o debate é a que diz respeito à validade do estilo chamado " gangsta", que utiliza as letras dos raps para falar das experiências dos jovens que teriam aderido à vida criminosa devido à falta de opções oferecidas pela sociedade.
Muitos consideram que as mensagens desse estilo incitam ao crime, enquanto outros acreditam que há uma grande importância na comunicação dessas vivências, tão comuns entre as populações marginalizadas das favelas e periferias urbanas.