O chamado mundo industrializado, representado no contexto do comentário pela União Européia, vive literalmente o tardio fenômeno social e político da intensa imigração de cidadãos das antigas colônias. A experiência é sentida com a gravidade exposta no noticiário pela França, mas também inquieta os governantes da Espanha e outros países próximos das fronteiras africanas.
Para o observador afeito à política internacional, o problema tem como palco a exata linha que separa o mundo desenvolvido do mundo subdesenvolvido, onde, a rigor, ninguém mais deseja permanecer. Mas é também explosivo nas terras de adoção, onde se manifestam com incontida violência os filhos e netos dos primeiros imigrantes.
Diante do grau de dificuldade que se coloca para os governantes, apesar do altruísmo com que alguns setores tratam o tema, não se deve esquecer que a imigração é um fato social complexo, com a participação de seres humanos, na maioria dos casos, objetos de ajuda especial.
O grande óbice está no fato de as sociedades desenvolvidas, os próprios imigrantes o sabem, só estarem dispostas a acolher estrangeiros aptos a consumir, fruto dos privilégios desfrutados nas terras de origem e, enfim, habilitados a ocupar seu espaço no mercado.
Caso contrário, o imigrante sempre será visto como mais um trabalhador qualificado ou não a ser absorvido e provido das necessidades básicas, algo cada vez mais difícil no mundo globalizado, que passou a identificar nesse contingente uma ameaça concreta.
É marca cada vez mais contundente das sociedades ricas, e sua expressão jurídico-política, a ausência de sensibilidade frente à desgraça e a dor das outras pessoas. Uma dor extremamente aguda quando se trata de pessoas abandonadas à própria sorte, mutiladas da maior aquisição humana que é o sentimento de pátria.
O sistema de produção e consumo desenhado para servir um mundo fechado em si mesmo, no qual as oportunidades de desenvolvimento são gradativamente retiradas da maioria, não se deu conta da realidade inquietante: não há barreira suficiente para conter o desespero dos excluídos.
Para os analistas, uma forma de evitar a constância da imigração – para muitos a fuga da opressão política e da miséria – seria trabalhar pelo desenvolvimento econômico e democrático dos países de origem, embora o Primeiro Mundo se mostre alheio a tal preocupação. Qual é a saída?