Há certas coisas que deixam os brasileiros numa sinuca de bico. É o caso rumoroso do foco de febre aftosa detectado pelo Ministério da Agricultura no Paraná, cujo saldo ruinoso foi o prejuízo de R$ 1 bilhão para a pecuária estadual. Numa audiência pública realizada no Senado, na última quinta-feira, o ministro Reinhold Stephanes afirmou em alto e bom som que o dinheiro está irremediavelmente perdido, mas ?a febre aftosa nunca existiu?.
Como se recorda, o anúncio do governo federal apontou, em primeiro lugar, um foco da doença animal numa fazenda do município de Eldorado (MS), na região fronteiriça com os estados de São Paulo e Paraná, onde poucos dias depois também se descobriu a existência de focos de aftosa.
O governo do Paraná resistiu muito até admitir a doença em seu território, tendo em vista que todas as etapas de vacinação haviam seguido os prazos estipulados pelo próprio Ministério da Agricultura. O então secretário da Agricultura, vice-governador Orlando Pessuti, a bem da verdade teimou em não aceitar o fato, hoje dado como uma miragem.
Para dar de barato, digamos que uma situação sobremaneira ambígua foi suscitada, não se sabe ainda com que desiderato, pelo ministro Reinhold Stephanes. Sua posição foi corroborada pelo atual secretário nacional de Defesa Agropecuária, Inácio Kroetz, que aproveitou para tecer severa crítica às condições sanitárias do rebanho bovino de Mato Grosso do Sul.
Sabe-se que vários estados produtores de carne in natura e industrializada sofrem até hoje as conseqüências do embargo a que foram submetidos pelo mercado importador, e a eles o governo federal deve uma explicação sem meios tons.
Não basta apenas o ministro insinuar que a doença não existiu, sobretudo porque os livros contábeis dos frigoríficos fechados e o grande número de empregados demitidos, aí estão a exigir uma manifestação cabal da União.
É inconcebível supor que a má-fé tenha imperado no trato dessa questão naquele momento fatídico do mandato anterior. Sequer poder-se-ia invocar a desídia do serviço público e desmerecer o nível tecnológico da pecuária de corte. A declaração de Stephanes requer exame acurado, doa a quem doer.