A União Européia, além da Rússia, Chile, Argélia e África do Sul, são alguns dos 57 países que continuam impondo barreiras ao ingresso de carne bovina produzida no Brasil, doze meses depois do controvertido anúncio da existência de focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul e no Paraná. Durante esse tempo, apenas Rússia e Chile abrandaram as exigências, mas não abriram totalmente o mercado para nossa carne.
O prejuízo para a pecuária nacional foi incalculável e as perdas acumuladas no setor de exportações vão exigir pesado sacrifício até serem recuperadas de modo integral. Numa situação como essa, reconhecem os funcionários da diplomacia ser praticamente impossível contar com uma reação diferente dos países importadores, tendo em vista o nível de exigência sanitária dos consumidores locais. A reabertura dos mercados externos tradicionais somente será viável diante de sólidas garantias da eliminação de todos os riscos.
Em particular, os estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná foram os mais punidos pelo fechamento dos mercados da União Européia à carne bovina, porquanto executivos de empresas importadoras continuam alimentando séria desconfiança sobre a contenção dos focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul. O horizonte fixado para a reativação das compras pelo comissário de Saúde e Proteção do Consumidor da UE, Markos Kiprianou, vai depender do relatório de avaliação a ser feito no primeiro trimestre do próximo ano.
O diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Antônio Camardelli, revelou que apesar do embargo à carne brasileira da parte de países importantes para o desempenho do agronegócio, as vendas praticamente se estabilizaram nos níveis de 2005, com receita crescente em função da restrição ao nosso produto e a conseqüente redução da oferta no mercado externo.
Durante este ano, o volume de exportação de carne bovina ?in natura? ou industrializada poderia ter sido de 10% a 15% maior que o do ano passado, segundo a Abiec, quando a quantidade embarcada foi de 2,390 milhões de toneladas, gerando divisas aproximadas da ordem de US$ 3,150 bilhões. De janeiro a setembro, os embarques somaram 1,745 milhão de toneladas, quase 4% a mais que em 2005, com receita de US$ 2,793 bilhões no período. Mesmo com a diminuição das vendas externas por causa da aftosa, a receita teve uma alta de 17,58%.
Os desencontros havidos entre os governos federal e estadual na condução das providências relativas ao isolamento dos focos de aftosa, vacinação do rebanho e eliminação de animais suspeitos de contaminação atingiram as raias do paroxismo, mas assim mesmo os pecuaristas e exportadores continuaram dando sua contribuição para o incremento das exportações, mesmo com resultados econômicos abaixo do esperado.
Cerca de 34 mil animais foram sacrificados no Mato Grosso do Sul e 6,8 mil no Paraná, ao custo de R$ 23,3 milhões pagos pelo Tesouro Nacional em indenizações aos criadores. Nenhum setor do governo foi capaz de dizer, porém, quando serão restabelecidas em plenitude as exportações da carne bovina produzida por nossos pecuaristas.
O governo – a história se repete -, que se pauta pela lentidão improdutiva, limitou-se a acenar com a ampliação dos recursos para a defesa sanitária animal no orçamento de 2007. Enquanto isso, nosso bife tarda a chegar à mesa dos consumidores, que exigem certificação de qualidade.