O barco do governo está fazendo água e não são poucos os que já estão reservando lugar nos botes salva-vidas. Neste ano teremos eleições municipais e o que foi um ímã capaz de reunir políticos das mais variadas correntes, o poder, ao mostrar-se impotente, provoca movimento no sentido contrário: a debandada. Não nos referimos aos petistas expulsos do partido de Lula por serem contrários às reformas na forma aprovada. Nem mesmo aos petistas e outros membros da coligação situacionista que, em manifestações diversas, demonstraram seu inconformismo com a política econômica e insinuaram que o melhor seria mudar o ministro da Fazenda. Estamos falando é dos últimos gritos de desespero partindo do PMDB, agremiação que aderiu ao governo para ganhar os ministérios das Comunicações e da Previdência Social, levando para as hostes situacionistas nada menos de vinte senadores, dentre eles o presidente do Senado, José Sarney, e 78 deputados federais, a segunda maior bancada na Câmara.

O empenho peemedebista de participar do governo visava partilhar um poder que daria prestígio e votos. Mas a adesão não está dando nem uma coisa, nem outra. Sarney, boicotando a CPI dos bingos, certamente agradou ao Planalto, mas isto não lhe valeu, nem ao seu partido, prestígio popular. Os ministérios peemedebistas, em termos de votos para o próximo pleito, nada somam. Antes, subtraem, em especial o da Previdência Social, palco de inúmeras greves afligindo sua clientela, aposentados, pensionistas e beneficiários de seus diversos programas. E não se pode esquecer que essa pasta vai, por força da reforma previdenciária, taxar aposentados e pensionistas, pelo que não colherá aplausos e muito menos votos.

A situação da economia não acena para dias melhores até as eleições e, por isso, assusta os que embarcaram na nau governamental e temem com ela soçobrar no pleito que se aproxima. O desemprego voltou a subir. De 11,7% da força de trabalho, em janeiro, passou a 12% em fevereiro. Novo recorde. Mais uma vez verificou-se queda do poder aquisitivo da população. Pelo décimo mês seguido o poder aquisitivo dos brasileiros encolheu.

O PMDB ameaça deixar o governo, embora, por gentileza ou derradeiras esperanças, ainda diga que acredita que Lula pode mudar os rumos da economia com os quais não concorda. Em documento elaborado sob a liderança de Orestes Quércia, mas com a chancela do presidente Michel Temer e da maioria dos próceres importantes do partido e ainda lideranças sindicais, o PMDB fez uma pauta econômica que quer ver o governo cumprir. É condição para ficar no governo. “O apoio partidário não está amparado em cargos que o governo dê ao PMDB, mas em programas que o PMDB patrocine no governo”, disse o presidente Temer, o que nem sempre foi, mas com a proximidade das eleições, passou a ser uma verdade.

A pauta econômica peemedebista exige redução da carga tributária sobre a pequena e média empresas; correção da tabela do Imposto de Renda de pessoa física; redução ordenada da taxa de juros, com esforço para redução do “spread” bancário; definição clara de programa de investimentos em infra-estrutura; fazer com que as multinacionais assumam compromisso de reinvestir parte do lucro na produção destinada à exportação; eliminação da tributação sobre investimentos no setor de bens de capital. Enfim, exige que o governo Lula faça, no campo econômico, algo que provoque a volta do desenvolvimento.

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