O faturamento real – descontada a inflação – das micro e pequenas empresas do Estado de São Paulo apresentou alta de 1,3% no primeiro trimestre deste ano, totalizando R$ 58,5 bilhões no período, segundo a pesquisa "Indicadores de Conjuntura" divulgada nesta quarta-feira (16) pelo Sebrae-SP.

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O crescimento foi puxado pelo desempenho dos setores de indústria e comércio, cujo faturamento teve elevação de 2,8% e 2 6%, respectivamente, sobre os três primeiros meses de 2006. Já o setor de serviços registrou queda de 2,3% nesse quesito, contrariando o bom desempenho verificado nos demais setores da economia.

De acordo com o economista do Sebrae-SP, Pedro Gonçalves, a renda dos consumidores neste período fica comprometida com o pagamento de impostos, compras de material escolar e dívidas contraídas com as compras de Natal, sendo que a recuperação do poder de compra acontece somente em junho. "Nessa conjuntura, os serviços são os primeiros a sofrer com o corte de gastos dos consumidores", explicou Gonçalves.

O economista disse também que a maior oferta ao crédito favorece a compra de bens de maior valor agregado, como automóveis e eletrodomésticos da linha branca. "Ao contrair o empréstimo consignado para adquirir esse tipo de bem, a renda do consumidor fica ainda mais comprimida", acrescentou.

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O nível de pessoal ocupado nas micro e pequenas empresas paulistas apresentou queda de 1,6% no primeiro trimestre de 2007. Entretanto, na margem, 12 mil novas vagas foram criadas, representando um incremento de 0,2%, em março sobre fevereiro deste ano, o que demonstra um otimismo por parte do empresariado para os próximos seis meses. Outro dado positivo é que o indicador apresentou alta de 2,4% em fevereiro, ante janeiro deste ano. "Ou seja, há indícios de recuperação do nível de ocupação nas micro e pequenas empresas", avaliou Gonçalves.

O rendimento real dos empregados das micro e pequenas empresas foi o destaque da pesquisa, com alta de 12,3% sobre os primeiros três meses de 2006. Os acordos coletivos fechados no ano passado quando cerca de 90% das categorias profissionais obtiveram aumentos reais acima da inflação, são apontados como a causa desse desempenho. Os gastos totais das empresas com salários, por sua vez, registraram crescimento de 4,4% neste trimestre.

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A pesquisa do Sebrae-SP mediu também as expectativas dos micro e pequenos empresários em relação ao faturamento de suas empresas para os próximos seis meses. Os dados mostram que 49% estimam manter o faturamento nos mesmos índices apresentados hoje, 34% acreditam em melhoria, 14% não sabem e 3% esperam piora.

Em relação à economia brasileira, os dados são bastante semelhantes. Dos entrevistados, 45% esperam manutenção, 38% estimam melhoria, 12% tem incerteza e 5% acreditam em piora.

Para o diretor administrativo e financeiro do Sebrae-SP, Milton Dallari, a inflação sob controle e a recuperação da renda dos trabalhadores e do agronegócio são indicadores positivos para o desempenho das micro e pequenas empresas. Ele criticou, entretanto, a velocidade da queda dos juros e a valorização do real ante o dólar, que prejudica, particularmente, as pequenas indústrias de bens não-duráveis, como calçados, móveis e têxteis.

O diretor prevê que, apesar da queda de rentabilidade que o real valorizado propicia aos exportadores, os pequenos negócios devem dobrar sua taxa de participação nas exportações brasileiras em um prazo de cinco anos. "Hoje representamos 2,5% do total das exportações brasileiras, mas, se nos prepararmos, como de fato estamos nos preparando, podemos chegar a 5% em um prazo de cinco anos", declarou.

Dallari é otimista em relação ao futuro das micro e pequenas empresas neste ano. "Os pequenos negócios costumam acompanhar o desempenho da economia brasileira como um todo. E se o Brasil de fato crescer, entre 4% e 4,5% este ano, as micro e pequenas empresas devem acompanhar", comentou.

Ele disse também que a entidade continuará a lutar pela ampliação do acesso ao crédito pelos micro e pequenos empresários e pela formalização da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas nos âmbitos estadual e municipal.

Regiões

As micro e pequenas empresas do Grande ABC apresentaram o melhor desempenho em faturamento real no Estado de São Paulo neste trimestre, com alta de 11,9%, em relação aos três primeiros meses do ano anterior. O Interior também registrou bons resultados, com crescimento de 5,7%. Já a Região Metropolitana de São Paulo e a Capital tiveram quedas de 2,3% e 3,4%, respectivamente.

"O desempenho do Grande ABC e do interior foi puxado pela recente recuperação da indústria automobilística, que alavancou as compras e encomendas para as micro e pequenas empresas. Já onde o setor de serviços tem grande peso, como na Região Metropolitana e na Capital, a queda do faturamento foi notada", afirmou Gonçalves.

O nível de pessoal ocupado apresentou queda em todas as regiões, com exceção do Grande ABC, onde a alta foi de 10,2%. No entanto, a região é também a única em que o rendimento real dos empregados apresentou retração no período, de 0,6%.

A pesquisa "Indicadores de Conjuntura" do Sebrae-SP foi realizada com 1,3 milhão de empresas formais do Estado de São Paulo, que empregam cerca de 5,7 milhões de pessoas. As micro e pequenas empresas representam 98% das empresas formais do Estado.