Brasília – O fraco desempenho das vendas industriais em outubro frustrou a expectativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) quanto a um crescimento mais robusto da atividade econômica no último trimestre do ano. "A gente espera que haja uma recuperação no quarto trimestre porque a base de comparação (terceiro trimestre) é muito fraca. Mas não será um crescimento forte", afirmou o economista da entidade, Paulo Mol, ao divulgar hoje (6) os indicadores industriais de outubro.
A má notícia veio principalmente do faturamento das indústrias, indicado pelas vendas reais, que teve queda em outubro pelo quarto mês consecutivo. Na comparação com setembro, a queda foi de 0,91%, o que eleva para 3,6% a retração acumulada desde junho. A CNI destaca que as vendas reais em outubro, excluindo os fatores sazonais, foram as mais baixas de todo o ano e estão 2% abaixo das vendas médias do terceiro trimestre.
Com esse desempenho fraco, fica cada vez mais estreita a margem de crescimento de 2005, na comparação com 2004. No primeiro trimestre do ano, a expansão das vendas industriais era superior a 6% na comparação com o mesmo período de 2004. No fechamento do primeiro semestre, o ritmo de crescimento caiu para 4,8% e, em outubro, o acumulado reduziu para 2,28% em relação aos dez primeiros meses de 2004.
O chefe da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, afirmou que os dados de outubro consolidam o quadro de esfriamento da atividade industrial na segunda metade do ano. "A única exceção é a massa real de salários, que continua ascendente porque recebe os benefícios da manutenção da inflação em um patamar reduzido", ressaltou.
Ele disse que a queda no faturamento das empresas é reflexo da política monetária arrochada – iniciada em setembro de 2004 e só afrouxada este ano – e da grande valorização do real frente ao dólar. "Os juros altos desaceleram o ritmo da demanda e dos investimentos e o câmbio afeta o valor em real das exportações", explicou.
Apesar da queda nas vendas, os indicadores industriais de outubro mostram que há uma tímida recuperação das variáveis atreladas à produção, como o número de horas trabalhadas, por exemplo, que aumentaram 0,85% sobre setembro. O documento avalia duas causas para esses movimentos aparentemente opostos. Uma possibilidade é a indústria haver recomposto seus estoques em outubro, daí a produção crescer e as vendas, não. Outra hipótese é a valorização do real ante o dólar, que poderá ter reduzido o faturamento em reais das empresas exportadoras. A CNI não descarta a conjugação dos dois fatores.
Mesmo que haja um aumento da atividade industrial, a CNI garante que não há risco de restrição à oferta de produtos. O nível de utilização da capacidade instalada está 2,8 pontos porcentuais abaixo de outubro de 2004, quando atingiu o pico histórico. "A indústria está preparada para atender a eventuais aumentos de produção sem a necessidade de investimentos", declarou Mol. Castelo Branco, por sua vez, lembrou que, embora a folga no parque industrial tire a apreensão sobre uma eventual pressão inflacionária, por outro lado desestimula o aumento dos investimentos de longo prazo.
Os dados de outubro mostram que a capacidade instalada está em 81,1%, já descontados os efeitos sazonais. O número de empregos na indústria subiu 1,80% em outubro com relação ao mesmo mês de 2004, mas se manteve estável perante setembro.