A participação dos países emergentes no Produto Interno Bruto (PIB) mundial deve saltar dos atuais 23% para 32% em 2030, segundo números do Banco Mundial (Bird) apresentados hoje em São Paulo pelo diretor-executivo da instituição, Otaviano Canuto. Entretanto, o aumento de importância das nações em desenvolvimento não ocorrerá de forma totalmente tranqüila, dada a sombra do déficit em conta corrente norte-americano, principal risco para a manutenção do crescimento econômico do mundo.

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De acordo com os dados do Banco Mundial, os emergentes devem crescer, em média, 4,5% ao ano até 2030, contra 2,5% do mundo desenvolvido. Só a China, que hoje participa com 4,7% do PIB global, deve passar, em 2030, a contribuir com uma fatia de 9 9%. "Em 2030, os Estados Unidos ainda serão os maiores, mas o conjunto das economias emergentes já vai tê-lo ultrapassá-lo", disse Canuto, em palestra dada na Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo.

Segundo o economista, essa situação de reequilíbrio das forças econômicas do mundo levará a um impacto positivo sobre a redução da pobreza, com exceção de alguns países da África, e a um aumento expressivo da massa de trabalhadores assalariados do planeta. "Nos últimos dez anos, o processo de incorporação de forças de trabalho nas economias de mercado foi de mais de 50% da população mundial. Esse processo deve se aprofundar ainda mais nos próximos 25 anos", avalia Canuto, ressaltando que esse choque de oferta, aliado à inclusão de uma nova força de trabalho, também repercutirá em uma queda dos valores pagos aos trabalhadores. "Sem dúvida, haverá uma queda no preço relativo da força de trabalho, mas com aumento brutal da massa salarial.

Esse cenário básico, a que ele chamou de "Nova Ordem Mundial", ainda é passível de ajustes, talvez negativos, por conta da dificuldade de se prever como se dará o equilíbrio da economia norte-americana.

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No tocante aos Estados Unidos, Canuto avalia que é o déficit em conta corrente o principal fator de preocupação. De acordo com o executivo, o déficit, que já atinge 7% do PIB, é, de fato, insustentável. Porém, ainda persiste a dúvida se o ajuste dessa conta ocorrerá com uma desvalorização do dólar – já vista em grande parte do mundo – aliada a uma depressão da economia norte-americana; ou se isso acontecerá sem a zeragem do déficit, permitindo, assim, a manutenção do equilíbrio econômico internacional, em convivência com o déficit dos Estados Unidos.

"Os mais pessimistas crêem que um superajuste, que levaria o déficit a zero, implicaria em perdas patrimoniais dos países que tem financiado o déficit americano. E que a conseqüente recessão seria inevitável. Outros, com a visão mais otimista, crêem que é possível conviver com um déficit americano entre 3% e 4%, porque essa dívida também seria a materialização de um desejo mundial", analisou.

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De qualquer forma, para o diretor-executivo do Bird, os países em desenvolvimento se encontram em uma posição mais sólida e, portanto, mais preparados para o ajuste da economia norte-americana. De acordo com Canuto, a principal contrapartida do déficit dos Estados Unidos em conta corrente tem sido a constante formação de superávits pelos países emergentes e exportadores de petróleo.

Segundo dados do Banco Mundial, desde 2000, o acúmulo na formação de reservas cambiais dessas nações atingiu US$ 2,5 trilhões. "Com isso, podemos dizer que a tarefa (de ter um bom desempenho econômico) é cada vez mais nossa, mesmo com todos os riscos que vemos à frente", comentou.