Uma platéia diversificada vem se reunindo todos os dias em frente ao Palácio da Alvorada para um espetáculo novo na cena política, mas que já se incorpora à rotina do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De estudantes e desempregados a turistas e pessoas que vêm de longe para reivindicar algo, todos querem ver o presidente. E não só ver, mas tocar, abraçar, beijar, tirar fotos, pedir autógrafo e dar até mesmo sugestões para resolver os problemas do País.
Por mais longa que tenha sido sua agenda de trabalho, Lula não deixa dúvidas de que gosta disso. Quase todos os dias, ao sair ou ao chegar ao Alvorada, residência oficial do presidente da República, ele desce do carro e leva ao delírio os admiradores que esperam horas em pé para vê-lo. O espetáculo já tem um roteiro definido. Quem quer ver o presidente vai ao Alvorada pela manhã ou à noite. E espera.
A cena impressiona. O comboio de carros que acompanha o veículo do presidente pára em frente ao portão do palácio. Os seguranças descem e tentam formar um cordão de isolamento. Mas não é fácil. Lula quer ficar mesmo é perto de seus eleitores.
O presidente, então, caminha em direção às pessoas que se espremem atrás de uma grade devidamente instalada pela segurança da Presidência da República depois que teve início essa nova romaria ao Alvorada. Nessa hora, muitos fãs começam a chorar. Lula não esboça nenhum temor do inesperado. Seu único medo, conforme disse em rápida entrevista concedida em frente ao Alvorada, é o de ficar “isolado”.
Mas o comportamento de Lula já desperta preocupações entre seus aliados. No Palácio do Planalto pessoas próximas a Lula manifestam receio por sua segurança. Lula, no entanto, parece ignorar essas ponderações.
Pacientemente, ele se envolve nas conversas com o público aglomerado em frente ao Palácio. Chama as mulheres e crianças de “meu amor” e recebe conselhos. Abraça. Ouve. Muitos lhe desejam muita paz e sucesso. Há pedidos até mesmo para que trabalhe menos. “Você está trabalhando muito”, disse um fã, ontem à noite.
A religiosidade também ganha espaço. “Nossa Senhora da Conceição está em cima desse Palácio”, afirmou uma mulher, que conseguiu vários minutos da atenção do presidente da República. Mas Lula também dá atenção aos querem encaminhar pedidos ao governo. É tratado como “companheiro”. Não há qualquer cerimônia. “Ajuda a gente, meu irmão. Só ‘você’ pode nos ajudar”, disse, ontem à noite, o presidente do Sindicato da Rede Pública de Saúde de Alagoas, Benedito Alexandre Lisboa, que lidera o pleito de prestadores de serviços da secretaria estadual de Saúde que querem ser efetivados.
Quando não pode parar, Lula escala um assessor para comunicar aos presentes que, daquela vez, não haverá show. Aí, se limita a acenar, do carro. Foi o que aconteceu hoje à tarde. O presidente estava apressado para embarcar para Curitiba, onde participaria da posse do novo diretor-geral brasileiro de Itaupu Binacional, Jorge Miguel Samek.