A lista de produtos fabricados pelo Complexo Tecnológico de Medicamentos Farmanguinhos, laboratório farmacêutico da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vai ser revista para reforçar a atuação na área das chamadas doenças negligenciadas, como malária, tuberculose, mal de Chagas e hanseníase. A proposta é aprimorar formulações e adaptá-las para crianças, um passo que deve levar o Brasil a ocupar um espaço internacional, pois, segundo adiantou a diretora da unidade, Núbia Boechat, os medicamentos poderão ser vendidos, a preço de custo, para a Organização Mundial da Saúde (OMS) e para a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
"Temos um programa de combate à aids conhecido internacionalmente, que tem ajudado outros países. A gente quer fazer isso também com as doenças negligenciadas, que afetam os países em desenvolvimento, criando fórmulas mais modernas. O excedente de medicamentos produzidos poderá ser vendido por um preço bem mais em conta para o exterior", disse a diretora do complexo Farmanguinhos.
O caminho até os outros países começa a ser traçado nos dias 6, 7 e 8 de dezembro. Na ocasião, será realizado o primeiro de uma série de encontros para ouvir dos especialistas de todo o Brasil sobre as demandas relacionadas aos medicamentos para doenças negligenciadas – assim chamadas por despertarem pouco interesse dos setores públicos e privados. De acordo com a organização não-governamental (ong) Médicos Sem Fronteiras, embora os países em desenvolvimento detenham 80% da população mundial, representam apenas 20% do mercado de medicamentos.
"Vamos começar discutindo o tema da tuberculose. A partir do relato de quem trata, diretamente, dos doentes, vamos saber quais os estudos de formulação devemos desenvolver para melhorar a resposta ao tratamento. Podemos, por exemplo, mudar a via de administração do medicamento, ou reunir, em um mesmo blister (cartela) dois tipos de comprimidos. Para nenhuma das doenças negligenciadas há formulação infantil. Queremos fazer isso", disse Núbia, acrescentando que os remédios são antigos por causa do desinteresse das grandes empresas farmacêuticas. "Se a gente não fizer isso, ninguém vai fazer, pois não trabalhamos pensando no lucro, mas na saúde pública".
Aumento na produção
A mudança no portifólio de medicamentos está associada ao incremento na produção, que, de acordo com Núbia, deve quintuplicar até 2008, passando dos 1,7 bilhão atuais para 10 bilhões de unidades ao ano. O primeiro passo para o aumento da produção foi dado com a compra, por US$ 6 milhões, da fábrica de medicamentos da multinacional GlaxoSmithKline, oficializada em agosto. A transferência das instalações de Manguinhos, na zona norte, para a nova unidade, na zona oeste, já começou. Segundo Núbia, até abril, será iniciada a fabricação de antibióticos.
"É a primeira vez que vamos produzir este tipo de medicamento. Começaremos pela amoxicilina e, depois, passaremos para o clavulinato", revelou ela, informando que será acrescido ao portfólio – composto, basicamente, de comprimidos, cremes, sólidos e pomadas – remédios para asma e aerossóis. "Há milhões de pessoas no Brasil sofrendo com a asma. É importante que a gente crie uma linha específica para a doença", disse ela, ressaltando que toda a produção do complexo de Farmanguinhos é absorvida pelo Ministério da Saúde e pelas secretarias estaduais e municipais de saúde. "Os remédios são distribuídos por meio do Sistema Único de Saúde, em programas, por exemplo, como o Farmácia Popular".
Núbia observou que o trabalho desenvolvido na unidade vai representar uma economia de R$ 10 milhões ao governo federal já que os medicamentos são comercializados a preço de custo. Mudanças feitas, por exemplo, na aquisição de matérias-primas, resultaram em uma economia ainda maior no ano passado: R$ 200 milhões. "Estamos trabalhando com o sistema de pregão. Com isso, conseguimos preços muito mais baixos".