Farmácias populares

Em quatro capitais, e prometendo repetir o feito em outras grandes cidades, o governo Lula criou as farmácias populares. Elas vendem medicamentos a preços mais baixos que as farmácias particulares, servindo de socorro à população carente. Paralelamente, funcionam há bastante tempo as farmácias do SUS. Estas entregam medicamentos gratuitamente ao povo. As farmácias populares, vistas com desconfiança por críticos deste governo porque começam a abrir suas portas às vésperas das eleições municipais, o que faz com que pareçam tônico para captação de simpatias políticas e votos, desde logo fizeram muita gente voltar para casa de mãos vazias ou com apenas alguns dos remédios receitados pelos médicos. Não têm todos os medicamentos costumeiramente procurados por indicação médica. O mesmo acontece com as farmácias dos postos do SUS. Muitos medicamentos costumam faltar. No ano passado, constatou-se, inclusive, a falta por longo tempo de medicamentos essenciais, indicados para transplantados. Remédios de uso obrigatório e que, não ministrados, podem levar os transplantados à rejeição dos órgãos recebidos de terceiros e até a morte. Parece que tudo não passou de problemas burocráticos, falta temporária de recursos ou outros inconvenientes na área da saúde. Quem sabe, incompetência. Aliás, essa área da saúde tem causado mais males que soluções.

É de se questionar a existência de farmácias populares onde os remédios são fornecidos a preços menores que no mercado e, paralelamente, os postos do SUS, onde são gratuitos. Muitas farmácias para muita gente e poucos remédios. A solução mais lógica seria que os brasileiros tivessem empregos e bons salários, dispensando a esmola governamental, com remédios mais em conta ou por conta do erário público. Estamos longe disso, com a maioria dos brasileiros abaixo da linha de pobreza e um salário mínimo de R$ 260,00, se o governo conseguir aprovar sua proposta no Congresso.

Mas, como temos de trabalhar sobre a realidade e não sobre o que seria ideal, a medicação fornecida a preços menores ou de graça é bem-vinda. Mas para que dois sistemas e nenhum funcionando bem? Já foi constatado que medicamentos que faltam nas farmácias populares podem existir nos postos do SUS. E vice-versa. É uma questão de pesquisar, o que nem sempre é possível quando o doente está precisando de socorro urgente.

Também deve ser discutida a gratuidade no SUS e os preços mais baixos nas farmácias populares. Os dois sistemas, sem aquilatar-se se a clientela é ou não carente, exigem subsídios, o governo paga. E se o governo paga, é o povo quem paga. No mais, são instalações duplicadas, administrações duplas e custos em dobro.

Neste País em que se inventam “bolsa” isto e aquilo, não seria melhor uma “bolsa remédios” ou outra forma de subsidiar os medicamentos para os mais pobres? Ou assumirmos, desde logo, a socialização desta parte do atendimento à saúde, jogando todos os recursos para o já existente sistema do SUS, com remédios essenciais gratuitos para todos? Ou, ainda, a criação de um documento que provasse a carência dos clientes para que se servissem de um único serviço de distribuição de medicamentos gratuitos?

Nenhum dos dois sistemas têm convictos devotos e ambos podem dar votos.

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