As duas irmãs conversando, caminhando pela avenida Barão do Cerro Azul. Ao chegarem ao fim da avenida, nas imediações da Catedral, uma delas propõe: ?Ora, Leonice, se a gente for pela rua atrás da Catedral, cortamos caminho?. Quatro horas da tarde. Tinham pouco tempo. As duas irmãs precisavam comprar algum brinquedo para presentear o filho pequeno de uma amiga e correr para o aniversário.
Enveredaram por aquela rua pensando que seria mais fácil, depois, seguir pela Saldanha Marinho.
O sol ainda estava quente. As sombras das duas moças projetavam-se de forma oblíqua na calçada, indicando que era quase fim de tarde. De repente, um tropel de passos e o ruído de rodas de carroças pareciam sair da porta dos fundos da Catedral.
?Silvana! O que é que está acontecendo?? Silvana olha para a irmã e percebe, muito assustada, a sombra de Leonice mudar de posição e desaparecer como se fosse meio-dia, e não quatro horas da tarde. Em seguida, um ribombar de vozes, muitas vozes, mas as moças não entendiam nada do que falavam, pois era um linguajar estranho, totalmente desconhecido para elas.
Silvana grita para a irmã: ?Corra, Leonice!? Nesse momento, as duas escutam a voz de um homem (parecia muito zangado), mas também num linguajar desconhecido. As duas correm e correm, mas era como se não saíssem do lugar…
Um tropel de passos, um ruído de rodas de carroças, as vozes, tudo muito irreal, assustador. Elas correm mas não conseguem alcançar o fim da rua, que é tão pequena… As duas não conseguem explicar o tempo que demorou aquele pesadelo. De repente, elas chegaram ao fim da rua, trêmulas, cansadas, muito assustadas.
Elas são adultas, com diplomas de curso universitário, tiveram o mesmo tipo de percepção. Será que elas foram assustadas por fantasmas? Ou aconteceu de, naquele momento, uma porta se abrir e as duas entrarem em algum túnel do tempo?
Margarita Wasserman – Escritora e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. Literatura brasileira registrada na Biblioteca Nacional.