O fato mais recente sobre fanatismo ideológico foi quando o presidente nacional do PT, José Genoíno, ex-deputado federal e ex-candidato ao governo paulista, levou uma torta na cara. Foi em público, numa atitude que objetivou humilhá-lo. E quem lançou a torta foi uma militante petista do grupo considerado autêntico, de extrema-esquerda, radical e que não concorda com as linhas do governo Lula, perfilhadas pelo agredido. José Genoíno, como político de esquerda, foi fisiológico para merecer a grosseria? Cremos que não. Pelo menos como deputado federal e, antes, como guerrilheiro no tempo da ditadura militar, sempre foi um lutador incansável por suas idéias socialistas e manteve um comportamento ético irrepreensível.
Há, da parte de militantes de certos grupos políticos extremados, sejam da esquerda, da direita ou simplesmente sem direção, a pretensão de serem donos da verdade. E a de poder ter a ousadia de insultar e agredir autoridades e homens de bem, por discordarem de suas posições. Ademais, existem os preconceitos que, em certos extremos, chegam ao ridículo.
Certo dia, durante a ditadura militar, uma jornalista militante do Partido Comunista Brasileiro, engajada numa célula “subversiva” (mais tarde ela veio a ser repórter da Agência Estado), estava com seus companheiros, acuada numa casa que recebia um angustiante cerco das chamadas forças de segurança. As prisões ou mesmo fuzilamentos pareciam cada vez mais próximos, a fuga impossível e a revolução dita democrática dos comunistas, um sonho muito distante, senão impossível.
Conta ela que, diante do nervosismo geral, seu e de todos os companheiros, decidiu distrair-se e distrair a todos, fazendo um pudim. Foi para a cozinha e preparou a iguaria, entrando orgulhosa com ela, na sala, certa de que adoçaria as bocas de seus camaradas, nessa hora tão amarga. Foi pichada e recebeu o pudim na cara. Pudim – disseram os extremados comunistas – é coisa de burguês.
Coisa de burguês pareceu, à militante que jogou a torta na cara de Genoíno, o Fórum Mundial Econômico de Davos, na Suíça, para onde Lula seguiu com o apoio e os aplausos do presidente do seu partido. Seu lugar era em Porto Alegre, resumindo-se a participar do Fórum Mundial Social, dominado pelas esquerdas e voltado ao combate à globalização. Há pessoas que se esquecem que homens como Lula, e mesmo o presidente do PT, são hoje gente do governo, com responsabilidade de inserir o Brasil no mundo global. E não têm possibilidade de ordenar: “Pára, mundo, que o Brasil quer descer!”.
Não existem verdades exclusivas e tanto em Porto Alegre quanto em Davos assuntos de interesse do nosso País foram discutidos. E numa ou noutra reunião o presidente Lula e sua equipe teriam contribuições a dar. É verdade que a reviravolta, principalmente na área econômica, e o risco de colher desesperanças muito cedo, existem e assustam. Debitemos as políticas econômicas do novo governo ao conhecimento direto da realidade, que antes era olhada à distância, com responsabilidade de criticar, mas não de solucionar. É compreensível a crítica da extrema-esquerda ao governo petista. Mas compreensíveis também podem ser as medidas ortodoxas que estão sendo tomadas, pois o bem do Brasil está acima de qualquer cartilha ideológica. A agressão grosseira, bem como a negação infundada, são exemplos de alienação. E alienados não conseguiriam comandar o País.