O estacionamento do Edifício Passarelli virou ponto de concentração de parentes dos desaparecidos no desabamento das obras de construção da Estação Pinheiros da Linha Amarela do Metrô da capital paulista, a maioria deles dos prováveis ocupantes de uma van da Transcooper soterrada na sexta-feira. Eles receberam água e refeição (arroz, feijão, farofa, carne e frango), puderam dormir da noite de sábado para domingo em colchonetes distribuídos pela empresa de transportes ou nos assentos do ônibus oferecidos pela companhia, mas durante todo o domingo não ganharam o que mais esperavam: dados precisos sobre o resgate realizado no túnel de acesso à Estação Pinheiros.

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Às 18h20, homens do Corpo de Bombeiros reuniram os familiares para avisar que a tentativa de retirada do microônibus, feita pelo túnel, seria suspensa para que engenheiros e geólogos avaliassem se havia risco de mais desabamento. Pouco depois, Marli Leite, irmã de uma possível vítima – o motorista da van Reinaldo Aparecido Leite, de 40 anos – teve uma crise nervosa e foi contida por funcionários do consórcio responsável pela obra. Gritava que a van tinha sido encontrada e que as autoridades decidiram retirar as vítimas ?escondidas?, para que ninguém visse.

No fim da noite, houve uma briga entre jornalistas, funcionários da Transcooper e familiares. A polícia foi chamada e um auxiliar de câmera da TV Globo levou um jato de spray de pimenta nos olhos. As agressões foram parar na delegacia.

Dia difícil

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Antes do tumulto, o dia das famílias tinha sido marcado por tristeza e apreensão. Ainda pela manhã, o major Marco Aurélio Alves Pinto já dizia aos repórteres que era praticamente impossível encontrar alguém com vida, porque a terra é muito pesada. Os familiares, que não haviam sido informados desta constatação, repetiam estar sendo mal assistidos e se sentiam perdidos.

Por volta das 16 horas, os parentes começaram a protestar que tapumes e caminhões haviam sido colocados na frente do local do acidente, para impedir a visão de quem não participa do trabalho. ?É uma falta de respeito com os familiares. Eles estão esperando informações e ninguém passa nada. Temos certeza de que a van foi encontrada, mas eles negam o tempo inteiro?, disse Paulo Roberto dos Santos, funcionário da Transcooper, empresa da van que ficou soterrada.

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Grávida de oito meses, Thaís Ferreira Gomes, a mulher do cobrador Wescley da Silva, era o retrato da esperança, ontem, entre familiares das vítimas do desabamento do túnel da Estação Pinheiros. ?Com certeza ele está vivo. Eu fico mais longe, mas com a areia saindo, para mim está tudo ótimo.? A mãe do cobrador Elenilda Adriano, pedia preces pela localização do filho, ?com apenas alguns arranhões?. ?Peço a todos que orem. Quanto mais orações, chegamos a Deus.? Ela dizia que o único momento difícil desde o acidente havia sido quando esperou o filho chegar em casa, na noite de sexta-feira, e ele não apareceu.

Karina, filha de 11 anos do motorista Reinaldo com sua atual mulher, Ezilene Gomes Dourado, ainda nem sabia o que aconteceu, segundo Anaires Dourado, tia de Ezilene. A mãe da menina chegou a desmaiar de nervoso, chora muito e diz que não quer ficar sem o marido.

Com a ex-mulher, Amanda Souza de Loura Silva, o motorista teve Priscila Leite, de 20 anos, e Ricardo Nagib Souza Leite, de 15 anos – outro esperançoso. ?Quase não conheci meu pai. Tive muito pouco contato com ele, mas tenho certeza de que está vivo?, disse, emocionado, Ricardo, ainda na madrugada de domingo. Colaboraram Fabiano Rampazzo, Laura Diniz e Paulo Baraldi.