Família de jovem morto no Japão demonstra solidariedade

Na dor da perda brusca, Ricardo Tamashiro surpreendeu pela solidariedade. "Lamento e manifesto meus pêsames para as famílias das outras vítimas, todas mais jovens que meu irmão", disse hoje. Márcio Tamashiro, de 32 anos, e outros seis brasileiros morreram atropelados por um caminhão na província de Shiga, no Japão, no final da tarde de sábado. Tamashiro, Alexsandro Teruo Nishioka, de 24 anos, e Thiago Kazuo Chinen, de 19, eram de Campinas, no interior de São Paulo.

Segundo Ricardo, de 37 anos, que mora em Campinas, o corpo de Márcio será cremado e depois trazido para o Brasil. Ele explicou que a família espera que o traslado seja pago pela seguradora da transportadora dona do caminhão que atropelou o grupo. Os brasileiros voltavam de uma festa e a van onde estavam se envolveu em um acidente. Eles foram atropelados no acostamento.

Alline Tiene Nishioka, de 26 anos, irmã de Alexsandro, contou que a van chegou a capotar. "Minha mãe disse que eles foram atropelados depois que saíram da van capotada", comentou. Ela vive em Campinas com o marido e um filho. A mãe Denilde, de 50 anos, mora no Japão, para onde mudou-se há três anos porque queria ficar perto de Alexsandro, e não tem planos de voltar para o Brasil.

Segundo Alline, o corpo do irmão também será cremado. "Minha mãe disse que vai trazer as cinzas quando vier para o Brasil. Ela quer que eu me mude com minha família para lá em janeiro", contou. Apontou, entretanto, que antes precisa oficializar o casamento com o marido, brasileiro, para que ele possa obter o visto japonês. "Vamos ter de esperar pelo menos um ano".

De acordo com Alline, os empregos no Japão são melhor remunerados, motivo pelo qual a mãe não pretende voltar para o Brasil. "Eu posso conseguir emprego na mesma fábrica que meu irmão trabalhava, se eu quiser", comentou. Hoje (14), ela estava no velório de um tio, em Campinas. "Tudo acontece junto". Argumentou, porém, que a morte do tio, de 75 anos, era esperada. Ele estava há vários dias internado em um hospital. "A perda do meu irmão foi um choque terrível. Nunca esperava que isso acontecesse com ele no Japão".

Os corpos de Alexsandro e Márcio ainda não haviam sido liberados no começo da tarde de hoje (14), conforme os parentes. Alexsandro havia se mudado para o Japão há sete anos porque o pai ficou doente e a família estava enfrentando uma situação financeira difícil.

Depois que o pai morreu, a mãe decidiu juntar-se ao filho e Alline ficou em Campinas para cuidar das questões do inventário. Ela contou que Alexsandro tinha muitos amigos e vivia bem no país asiático.

Márcio viajou para o Japão, pela terceira vez, em março deste ano. O irmão Ricardo comentou que, somando as três viagens ele havia passado pelo menos dez anos no país. Ficou sabendo da tragédia por outro irmão, Reinaldo, que também vive no Japão, e telefonou por volta das 10 horas do domingo. Ricardo disse que levou cinco horas para dar a notícia à mãe, Mitsuko Tamashiro, de 64 anos, que mora em Campinas.

"Conversei com os parentes para ver como seria a melhor forma de contar. Ela não acreditou quando falei, só se convenceu depois que conversou com o Reinaldo, no Japão", disse Ricardo. Reinaldo mora com mulher e dois filhos. Ricardo passou dez anos trabalhando no país, mas preferiu voltar para o Brasil. "Cansei de lá. As pessoas consideram o Japão um eldorado. Márcio foi para buscar outra cultura. Ele aprendeu a ter mais disciplina".

Ricardo comentou que, com trabalho e disciplina, é possível juntar dinheiro no Japão. Esse era o objetivo dos pais de Thiago Kazuo Chinen, que se mudaram de Campinas para o país asiático há pouco mais de um ano para trabalhar. Thiago se juntou aos pais cerca de oito meses atrás, mas pretendia voltar a Campinas para terminar a faculdade, contou a prima Neusa Magalhães. A avó de Thiago, que mora em Campinas e se identificou como Rosa, não quis falar com a reportagem. "Ela ficou muito chocada. Temos poucas informações do Japão e estamos esperando por notícias", comentou Neusa.

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