O Programa Antártico Brasileiro pode ser paralisado por falta de segurança e condições de trabalho para os pesquisadores, caso não sejam garantidos para o projeto pelo menos R$ 10 milhões no Orçamento da União deste ano – que ainda aguarda aprovação do Congresso. "Se o dinheiro não sair, corremos o risco de interromper os trabalhos a partir do inverno, levando o Brasil a jogar fora 22 anos de pesquisa e investimentos", diz o secretário-executivo da Comissão Interministerial de Recursos do Mar, almirante José Eduardo Borges de Souza, que está há um mês na estação brasileira na Antártida, batizada de Comandante Ferraz.
"Nada disso terá continuidade sem o comprometimento efetivo de todos os setores governamentais", afirma o almirante, apontando a necessidade de apoio dos Ministérios da Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente e Planejamento. "Estamos trabalhando duro, lutando para obter os recursos para as obras não pararem." O objetivo é que a base brasileira seja renovada até 2007, escolhido como o Ano Polar Internacional.
Será uma oportunidade para especialistas brasileiros participarem de pesquisas desenvolvidas por outros países, absorvendo conhecimentos e compartilhando equipamentos. Para isso, no entanto, é necessário que a estação Comandante Ferraz esteja em boas condições e seja capaz de abrigar cientistas de outros nacionalidades. Experimentos desenvolvidos na Antártida são fundamentais para o avanço do conhecimento em áreas como a meteorologia.
O programa brasileiro foi criado ainda no regime militar em 1982, sete anos depois de o País ter aderido ao Tratado da Antártida. As 28 nações signatárias desse tratado assumiram o compromisso de realizar na região apenas pesquisas para fins pacíficos. Para manter uma estação no continente, que é considerado território internacional, cada país precisa realizar experimentos científicos com freqüência e regularidade.
O Brasil mantém na estação Comandante Ferraz um efetivo de 25 pesquisadores, 25 funcionários de manutenção e 10 militares. Cerca de 20 pessoas permanecem na base no inverno, mas no verão ela recebe até 120 pesquisadores. A estação é apoiada pelo Navio Oceanográfico Ary Rongel e por aviões da Força Aérea Brasileira.
Ao falar das dificuldades na base brasileira, o almirante explica que a manutenção dos equipamentos da estação foi muito prejudicada, pois o orçamento do Programa Antártico sofreu uma redução de 70 % nos últimos anos. "Em cada lugar que mexemos, só encontramos ferragens podres", conta. Técnicos da Petrobras visitaram a estação e constataram que os tanques de combustível estão corroídos. De acordo com Borges de Souza, é necessário trocar pisos e encanamentos de água e esgoto – que estão apodrecendo por causa da ferrugem acelerada pelas condições climáticas da Antártida.
Os técnicos estão mudando a localização do incinerador e instalando mais uma câmara frigorífica, o que permitirá à estação receber um número maior de alimentos, diminuindo os gastos com o envio de comida por avião. Também vai ser construído um galpão. Essas obras vão consumir R$ 2,7 milhões, tirados do orçamento da Marinha. O almirante reforça que, sem a garantia de recursos contínuos, o programa corre o risco de interrupções. "São necessários R$ 10 milhões em 2006, R$ 8,45 milhões em 2007 e R$ 8,45 milhões em 2008. A partir daí, R$ 6 milhões todo ano para a manutenção da base.