No início do governo Lula, o ministro da Educação, Cristovam Buarque, reclamou publicamente mais recursos para sua pasta. Recebeu um também público puxão de orelhas de Lula, que o advertiu que “quem tem pressa, come cru”. Bastava o fato de Cristovam ser um ministro de Estado para a advertência pegar mal, já para não dizer, parecer ofensiva. Trata-se de um político petista dos poucos com currículo respeitável, no qual se inclui, inclusive, o fato de ter sido governador do Distrito Federal e reitor universitário.

Mesmo que Lula tivesse razão, ou razões coubessem ao ministro reclamante, o episódio poderia ser evitado, pois foi constrangedor. Mas Cristovam engoliu. Chegou a dizer que não se ofendeu e que Lula tinha razão, o que, se não é subserviência, é pelo menos uma atitude passiva que não se coaduna com as funções que exerce. Em outros tempos e com outros homens, ter-se-ia gerado um desconforto tal que poderia gerar até um pedido de demissão, pois o elevado trato entre as autoridades faz parte dos melhores usos e costumes na vida pública.

Procuremos uma interpretação mais condescendente para o episódio. Tratava-se de pontos de vista divergentes entre um presidente oriundo das massas operárias, portanto sem muitas papas na língua, e um ministro da Educação, que é professor e ainda carrega vários outros títulos. O primeiro julgou que dizia o que devia e o segundo que engolia porque sobejavam escusas e a resposta mais ríspida vinha do seu chefe, o presidente da República.

Ao que parece, Cristovam Buarque engoliu, mas não digeriu. Agora, ele volta à carga e de forma muito mais contundente, embora longe das vistas de Lula.

Num encontro com cerca de quatrocentos estudantes, numa escola de Brasília, o ministro sugeriu que eles se unam e façam uma passeata até o Congresso Nacional, para reivindicar mais recursos para a educação. Em bate-papo com os estudantes, Cristovam disse que o Brasil nunca priorizou a educação e reafirmou que “o País finge que dá educação para o povo brasileiro”.

Adiantou que uma das políticas do atual governo para a educação é tornar o ensino médio obrigatório e que também pretende aumentar o tempo de estudo, nesse nível, de três para quatro anos. Isso serviria para que os estudantes possam aprender na escola uma atividade profissional. Aliás, uma excelente idéia.

A instigação à passeata ao Congresso e a crítica à posição dos governos brasileiros em relação à educação, sem excluir nenhum, nem mesmo o de Lula, é na verdade um ataque bem mais contundente do que aquela choraminga por verbas que lhe valeu o público puxão de orelhas. Os recursos previstos para o setor constam da proposta orçamentária que Lula já encaminhou ao Congresso Nacional. Portanto, mesmo que formalmente, ao Legislativo é que caibam as deliberações sobre a matéria, em se tratando de um ministro de Estado, no âmbito do Executivo é que lhe caberia discutir o assunto. E a idéia de passeatas de estudantes ao Congresso parece a convocação de um apoio de quem não o tem no seu próprio meio, o Executivo, do que uma ação pró-educação junto ao parlamento.

Cristovam Buarque caminha certo por linhas tortas. É evidente que o Brasil precisa de mais verbas para a educação. Precisa, aliás, com a mesma prioridade que o governo tem dado às reformas previdenciária e tributária, de uma profunda reforma no setor de ensino.

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