A estiagem que atingiu o Paraná pelo terceiro ano consecutivo é favorável à produção de uva. De acordo com o relatório divulgado nesta segunda-feira (23), em Curitiba, pelo Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura, a falta de chuvas que prejudicou principalmente as culturas de milho e soja possibilitou resultados positivos para quem investiu na produção de uva.

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Nos municípios localizados no Núcleo Regional de Francisco Beltrão, uma das mais afetadas pela seca, a uva produzida apresenta elevado teor de açúcar, o que garante vinho de melhor qualidade.

Segundo a coordenadora da Divisão de Estatísticas Básicas, Gilka Cardoso Andretta, as uvas produzidas na região são de dupla aptidão. ?O produtor vende, no varejo, a uva para mesa. Já a uva, que não atingiu o padrão exigido pelo consumidor, é entregue a mais de 25 cantinas espalhadas pela região?, disse.

O Núcleo Regional de Francisco Beltrão responde por 43% da área plantada com uva no Paraná. ?A região também é responsável por 50% da produção de uva do Estado, destinada à produção de vinho?, informou Andretta.

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De acordo com o Deral, dos 27 municípios que fazem parte desse núcleo, 20 já têm a uva como uma atividade comercial. No município de Salgado Filho, cerca de 140 hectares são usados para o cultivo da fruta. Em Francisco Beltrão, são 130 hectares. Ambos são os maiores produtores de uva do Estado, destinada à produção de vinho.

?Em Francisco Beltrão, a renda bruta foi de R$ 1,19 milhão. Se há 130 hectares, concluímos que cada hectare plantado com uva gerou R$ 9.138,00?, afirmou. Segundo Andretta, o município precisou plantar 3 mil hectares com milho safrinha para obter R$ 1,3 milhão, que representou renda média de R$ 434,00 por hectare. ?Podemos concluir que um hectare de uva teve uma renda bruta 21 vezes superior ao hectare cultivado com milho safrinha?, ressaltou.

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Nos últimos seis anos, a área plantada com uva no Paraná cresceu 94%. No Núcleo Regional de Francisco Beltrão, esse crescimento foi de 112%. Segundo levantamento do Deral de 2004, foram plantados 902 hectares com a cultura naquele ano.

A produção foi de 9.385 toneladas, que possibilitaram renda bruta de R$ 10,14 milhões. De acordo com estimativas do presidente da Associação Beltranense de Vitinivicultores (Abevi), Altemir Roberto Berte, a área plantada e a produção devem ter crescido em torno de 15% em 2005 e, em 2006, devem crescer 20%.

Diversificação

O sucesso no cultivo da uva é um dos resultados da diversificação da propriedade rural. ?A opção em diversificar a propriedade acaba salvando pequenos produtores. Alguns deles, com apenas um hectare plantado de uva, conseguem sustentar a propriedade de 10 a 15 hectares nesta época de seca?, comentou Andretta.

Segundo a coordenadora da Divisão de Estatísticas Básicas do Deral, um emprego é gerado, aproximadamente, a cada 50 hectares de soja ou milho, e apenas um hectare plantado com uva gera de três a quatro empregos. ?Estes são empregos diretos. A partir daí, existe a absorção de mão-de-obra em toda a cadeia produtiva?, disse.

As cantinas instaladas na região de Francisco Beltrão têm capacidade para produção 50% superior à produção regional. ?Atualmente, grande parte das uvas utilizadas nessas cantinas são compradas na serra gaúcha e em Santa Catarina. Portanto, existe a possibilidade de se ampliar a produção?, afirmou.

Andretta ainda informou que o clima e a declividade do Sudoeste do Paraná são propícios não apenas para o cultivo da uva, mas também para a produção de outras frutas. ?Por isso, repensar a vocação regional e a especificidade de cada município pode fazer diferença em médio prazo?, concluiu.