Não se deve pronunciar seu santo nome em vão, ensinam as religiões cristãs em relação a Deus. Mas alguns religiosos, ou melhor, vigaristas travestidos de religiosos, membros noviços de algumas confissões inconfessáveis, entenderam o mandamento de absoluto respeito para com o senhor supremo ao contrário. E invocam o seu nome que, em suas bocas fétidas são pecaminosas imprecações, em proveito próprio, usando-o como se estivessem se referindo a algum assecla ou servidor subalterno.
Não é preciso ser religioso para ver nesses atos impuros desrespeito a Deus e até mesmo às suas mais humildes criaturas. Estas são os contribuintes, os eleitores, gente do povo, que, pensando estar ouvindo pregações religiosas, ficam a engolir cantilenas cujo único objetivo é captar não o dízimo, mas propinas polpudas.
Invocada por malfeitores e gente sem fé, a religião já serviu para enganar os mortais, mas o que se está assistindo neste País é vigarice mesmo e da mais grossa. E os ladrões do povo não se pejam em invocar Deus, não o criador, mas o que em seus altares pagãos é multiplicador de suas escusas fortunas. Não estamos falando de nenhuma fé das que pedem, impõem e merecem respeito. Em nome da liberdade religiosa, às verdadeiras devotamos o merecido respeito. Referimo-nos a essas igrejas com ?i? minúsculo, microscópico, que são verdadeiras arapucas para arrancar dinheiro do povo. E com preferência pelas vítimas pobres, porque nessa camada de excluídos é mais fácil enganar e dela saquear.
Exemplo gritante e revoltante é a verificação das propinas recebidas pela máfia dos sanguessugas. Cinqüenta e oito por cento delas foram repassadas a parlamentares da chamada bancada evangélica. Façamos um parêntese para, desde logo, proclamar que entendemos, porque é evidente, que aí o uso da expressão ?bancada evangélica? é um abuso inadmissível, pois existem sólidas, bem intencionadas, decentes e fundamentadas igrejas evangélicas, que não podem ser confundidas com essas arapucas que são abertas todos os dias, em cada esquina, nos galpões de bingos falidos, prostíbulos decadentes ou outros próprios impróprios.
E pensar que, em honra do Senhor, a humanidade já construiu templos magníficos e merecidos, como uma Catedral de Colônia, de Reims, a Igreja de São Pedro, os lindos templos barrocos mineiros, igrejas discretas como as católicas, presbiterianas, calvinistas, batistas, luteranas e outras que temos entre nós e são monumentos à verdadeira fé no Senhor. Quem oferece essa vergonhosa e escandalosa estatística de parlamentares, falsos representantes religiosos, embolsando a maior parte dos recursos que faltam para dar assistência à saúde do povo e sobejam para compra de ambulâncias superfaturadas, não é nenhum gentio, mas o relatório da comissão parlamentar mista de inquérito da máfia dos sanguessugas. Trata-se de dado estatístico verdadeiro e revoltante, indesmentível porque essa gente que roubou o povo mentindo que tinha algum deus do seu lado, não vai devolver o dinheiro nem conseguir limpar-se com alguma ablução. Salvo se for com água sanitária bem batizada com soda cáustica. Melhor ainda: que purguem suas culpas não num santificado claustro daquelas almas abençoadas que devotam toda a sua vida ao Senhor. Mas numa cadeia mesmo, de preferência na penitenciária federal de Catanduvas.