Um dos requisitos do ser humano é a coragem. Há que ser destemido, que não temer o perigo, que encarar a realidade e lutar sempre. Mas, para alguns, ser “corajoso” é demonstrar truculência e mostrar-se como mais forte sempre. Esses só se sentem seguros com uma arma na mão, e na verdade só existem para institucionalizar o medo na cabeça dos pobres brasileiros. São os tais seguranças particulares – só não sei se asseguram a vida de alguém.
É só entrar em um banco para perceber o excesso de “coragem”. Com o álibi de defender o local de um assalto, esses seguranças se dão o direito de quase interrogar as pessoas que tentam agilizar seu dia-a-dia, ou mesmo guardar seus parcos salários. Faça o teste: tente passar por uma porta automática com uma prosaica chave. Além de não entrar, você passará por uma descompostura de um segurança que imagina que você é o Osama bin Laden dos trópicos.
Não quero dizer que essa preocupação é errada. Nós vivemos em um País que não tem segurança de qualidade, e as entidades particulares necessitam se cuidar. Mas isso criou um poder paralelo de polícia, já que esses seguranças – que em tese são vigilantes – acabam se tornando responsáveis por atos pelos quais não poderiam responder, colocando em risco a entidade e as pessoas que lá trabalham.
E é claro que as empresas – não todas, é claro – que administram esses “vigilantes” também têm sua parcela de culpa. Não há preparo psicológico – apenas ensinam as pessoas a atirar e as colocam para cuidar de grandes somas de dinheiro, e principalmente de um grande número de vidas. E quando eles precisam tomar decisões, como na tragédia do final de semana no Jockey Club, eles se vêem desamparados, como qualquer um de nós que estivesse passando pelo mesmo problema. Afinal, são humanos – como todos nós.
Essa história de seguranças (e policiais) truculentos ganhou força depois da criação do projeto “Tolerância Zero” em Nova York – que, nos primeiros anos, deu muito certo. Só que, semana passada, policiais receberam uma denúncia anônima de tráfico de drogas em uma casa do Bronx, invadiram a residência, jogaram uma bomba de efeito moral e mataram a dona da casa, de 66 anos. É o risco de quem joga com a força, e esquece da inteligência.
Cristian Toledo é repórter de Esporte em O Estado.