Falou a esfinge

Na assaz discutida entrevista no Fantástico do último domingo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não assumiu, em momento algum, ser candidato à reeleição. Mas, também transpareceu a cristalina verdade que dificilmente não será, mesmo esgrimindo com habilidade a arte de tergiversar.

Assim, a nação está diante de uma esfinge que não mais consegue esconder suas intenções imediatas, se esta houve em algum momento desde a posse em janeiro de 2003, até pelo tom enfático utilizado na representação algo retórica da colheita do último ano de governo.

Lula afirmou estar tudo preparado para o Brasil deslanchar no ano recém-iniciado, embora tivesse esquecido de tomar uma providência há pelo menos três meses, pela qual os milhões de brasileiros que viajam desde o Natal muito teriam a agradecer: a recuperação das rodovias federais, cujo criminoso desleixo foi exibido à saciedade por todos os canais de televisão.

O presidente expressou o desejo de voltar aos lugares onde semeou os projetos mais ambiciosos, com o objetivo de fazer o que chamou de colheita. Em sua mente estão, entre outras coisas, ferrovias, hidrelétricas, portos, sistemas de saneamento e, decerto, algumas visitas aos beneficiários do Bolsa Família que voltaram a fazer três refeições por dia.

Para os cientistas políticos estimulados a falar sobre sucessão, o discurso planejado pelo presidente, na verdade, o único à sua disposição, não traz em si nenhuma garantia de resultados eleitorais expressivos.

Deficiência a ser descontada, no entanto, asseguram alguns deles, pela força do carisma pessoal de Lula, um diferencial significativo.

Ocorre que o principal partido de oposição, o PSDB, não poderá atacar o governo pelo viés da política econômica, por ser esta mais radical que a de FHC. Também no campo da ética, o tucanato não tem como tripudiar à vista de seu próprio envolvimento com o caixa 2 alimentado por Marcos Valério, na campanha do atual senador Eduardo Azeredo ao governo de Minas, em 1998.

Ademais, Lula antecipou parte da oratória de palanque ao frisar que se sentiu apunhalado pelas costas, porquanto a conduta de certos companheiros do PT foi incompatível com as normas do partido. É sempre um bom argumento, especialmente para o eleitor menos afeito a formulações que sequer chega a compreender. Se der nomes aos bois, carta que vai guardar na manga, Lula tem grande probabilidade de ganhar.

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