O jornal britânico Financial Times publica hoje um extenso artigo sobre o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, com declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. O diário financeiro britânico questiona se o presidente irá pender mais para a esquerda e afirma que falhas no plano econômico para seu segundo mandato ?poderão condenar o Brasil a ficar atrás? de outros grandes países emergentes que compõem o grupo Bric – Brasil, Rússia, Índia e China. ?Nas palavras do chefe de pesquisa do banco WestLB em Nova York, Ricardo Amorim, o Brasil está parecendo mais uma ?economia subemergente? do que uma emergente?, disse o jornal.
O FT observa que, na avaliação dos principais ministros do governo, o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), alicerçado no aumento dos gastos públicos em infra-estrutura, obterá seu objetivo sem prejudicar a estabilidade financeira e econômica. ?Nós no governo Lula acreditamos que o trabalho intenso feito ao longo dos últimos quatro anos para criar um ambiente macroeconômico estável nos permite agora buscar um crescimento econômico mais rápido?, disse Rousseff, que segundo o FT é ?de fato a primeira-ministra" do governo.
O governo garante que mesmo com uma redução do superávit primário com o objetivo de aumentar os investimentos em infra-estrutura, a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB), atualmente em cerca de 50%, continuará declinando. ?Entretanto, muitos economistas consideram isso uma diluição da determinação fiscal do governo, o que torna menos provável uma vigorosa reforma de mercado?, disse o FT.
Mantega disse que o governo está consciente da necessidade de remover as barreiras burocráticas ao crescimento e demonstrou otimismo com o impacto da planejada reforma tributária. ?Vamos juntar todos nossos impostos indiretos num único imposto de valor agregado nacional?, disse o ministro. ?Temos um cronograma de trabalho no qual todas essas coisas vão acontecer e no dia 6 de março teremos nosso primeiro encontro com os governadores de Estado.
Mas o FT observa que, segundo os críticos do governo, esses esforços não são suficientes. ?Muitos concluíram que o governo está se tornando menos convencido de que a ortodoxia é o caminho a ser seguido?, disse. ?Na verdade?, acrescenta o jornal, ?o governo parece estar perdendo a disciplina fiscal que manteve durante o primeiro mandato de Lula?.
Segundo o FT, em vez de cortar gastos ou implementar outras reformas, o PAC deixa claro que o governo colocou toda sua fé no poder do investimento para estimular a atividade econômica. Rousseff disse que o plano pega ?a variável do investimento como a variável determinante para aumentar a taxa de crescimento econômico?. A ministra foi taxativa ao descartar uma reforma trabalhista. ?Isso não está na agenda do governo. Acreditamos que existem outras prioridades maiores?, disse Rousseff.
No entanto, segundo o FT, talvez as maiores dúvidas sobre o segundo mandato de Lula estejam relacionadas a suas prioridades: crescimento econômico ou melhora na distribuição de renda? ?Na verdade, se o persistente crescimento lento foi o fracasso do primeiro mandato de Lula, seu notável sucesso ocorreu na distribuição de renda?, disse o jornal. ?Programas de bem-estar social baratos e muitos direcionados, e, acima de tudo, inflação baixa e preços altos na exportação de commodities ajudaram a produzir melhoras nas condições de vida dos pobres que tornaram Lula o presidente mais popular da história do Brasil.
