Em depoimento nesta terça-feira (22) à CPI do Apagão Aéreo da Câmara, o presidente da Associação Brasileira de Controladores de Tráfego Aéreo (ABCTA), sargento Wellington Rodrigues, disse que falhas no software do Cindacta 1, em Brasília, levaram os controladores de vôo ao erro, no dia 29 de setembro, quando ocorreu o acidente entre o Boeing da Gol e o jato Legacy. No depoimento, Wellington quase chorou ao lembrar o dia do acidente e garantiu que os controladores de vôo não são nem terroristas nem bandidos nem sabotadores.
"Não somos sabotadores, terroristas, não somos panos de chão. Somos homens honrados", afirmou Rodrigues, ao citar falhas no sistema que levaram ao caos aéreo. Ele anunciou que a Associação vai processar quem acusou os controladores de vôo de sabotagem. No auge da crise do setor aéreo, o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), Milton Zuanazzi, chamou os controladores de sabotadores. Rodrigues foi obrigado por seus superiores a ir à CPI fardado e teve de ficar cinco horas e meia em uma sala da assessoria parlamentar do Comando da Aeronáutica, antes de começar a depor.
Nas cerca de três horas que ficou na CPI, o sargento confirmou também a informação do deputado Vic Pires Franco (DEM-PA) de que há duas semanas, dois aviões de grande porte quase colidiram no ar, perto de Brasília. "Só não tenho o tipo de aeronave. Aconteceu há 15 dias. A informação que tenho é que os dois aviões passaram bem próximos", afirmou Rodrigues. "Tive a informação de que eram um boeing e um airbus e que chegaram a raspar tinta", disse Franco. A assessoria de imprensa do Comando da Aeronáutica informou que não existe nenhum registro de qualquer perigo de colisão entre duas aeronaves no período e na área citadas pelo deputado.
Em seu depoimento, Rodrigues explicou que o software usado nos Cindactas foi concebido para que os planos de vôo das aeronaves entrem na tela, independentemente da autorização dos controladores de vôo. No dia do acidente com o avião da Gol, o plano de vôo do Legacy previa que, depois de passar de Brasília, o jato baixaria de 37 mil metros para 36 mil metros. A tela do Cindacta 1 detectou que o jato desceu, mas na realidade ele continuava a 37 mil metros.
"O software foi concebido para o plano de vôo entrar na tela, independentemente da autorização dos controladores. Isso realmente levou os controladores a acreditar que o jato estava a 36 mil metros", disse o sargento. Mais cedo, o presidente do Sindicato de Controladores de Proteção de Vôo, Jorge Botelho, também reconheceu que os controladores de vôo erraram no dia do acidente da Gol.
"A meu ver pode ter havido erros dos controladores. Mas estão tirando de foco as autoridades, que não supriram as necessidades e as deficiências que levaram os controladores ao acidente. Tem de se cobrar daqueles que têm de pôr os equipamentos e as condições de segurança para que os controladores trabalhem", observou Botelho, que representa os civis que trabalham nos centros de controle aéreo.
No depoimento à CPI do Apagão, Wellington Rodrigues defendeu ainda a desmilitarização do controle de tráfego aéreo. Disse também que falhas nas comunicações são comuns e confirmou a existência de um "buraco negro" na região onde o Legacy bateu no boeing da Gol. Segundo ele, apenas a partir de janeiro essa região passou a ser vista nas telas do Cindacta 1, em Brasília. Antes, só era visualizada nas telas do Cindacta 4, em Manaus. "Essa era uma área em que quem via a aeronave não a controlava e quem controlava a aeronave não a via", resumiu o sargento.