Os episódios que ocorrem em Vitória, Espírito Santo, secundando os graves ataques à ordem pública no Rio de Janeiro, denunciam a falência da autoridade do Estado, que, como entidade representativa de uma sociedade organizada, já não se vê nem se sente. Muito se tem discutido sobre o governo Lula e sobre governos estaduais, uns aplaudindo, outros apupando. Não se há de negar méritos ao governo que representa o Estado brasileiro. E a governos que chefiam as unidades federativas.
Bons resultados na balança comercial, volta do crescimento industrial e do emprego formal, administrações estaduais bem sucedidas e governos municipais, que até mereceram a reeleição de seus prefeitos, existem.
O que se pergunta é: até quando continuarão indo bem num ou noutro setor, se estamos ingressando claramente na anarquia?
A criminalidade cresce em todo o País, em particular nas grandes cidades, onde a miséria é mais intensa e as soluções mais difíceis. O crime organizado se expande. Por isso estaria o Estado com dificuldades de coibi-lo? Ou seria porque o próprio Estado está perdendo autoridade e desmantelando-se no setor de segurança.
A frouxidão com o crime, e as autoridades sempre minimizando os atos anti-sociais e agindo com vagareza, se não se omitindo, levam a pensar que o Estado brasileiro está admitindo que o destruam. Um exemplo quase sempre repetido é o caso das invasões de terras, proibidas por lei e admitidas pelo governo. A punição última, que é a intervenção federal nos estados onde não se cumprem mandados de reintegração, jamais foi aplicada, mesmo que decretada. Agora, vêem-se bandidos mascarados, a serviço de algum papa-terra, fazendeiro ou explorador, matando agricultores.
No Rio, repetem-se todos os dias ataques a cidadãos, empresas, casas e edifícios de apartamentos; a empresas e repartições públicas. Agora, há uma luta aberta e armada entre bandidos e autoridades de segurança, aqueles atacando e estes tentando defender-se, quando não aliados à criminalidade.
Em Vitória, Espírito Santo, onde se admitiu o comando político, por muito tempo, nas mãos de chefes do crime organizado, depois de um pleito que poderia higienizar a vida pública local, assiste-se ao ataque dos bandidos a pelo menos uma dezena de ônibus, que foram incendiados.
Na capital capixaba, com maior presteza, menos falsos pudores e mais objetividade que no Rio, interveio, a pedido e imediatamente, o Exército.
É verdade que não cabe às Forças Armadas papel de polícia, mas também é verdade que os acontecimentos demonstram, à saciedade, que há falência da autoridade.
Nenhuma reforma agrária será feita; nenhum desenvolvimento econômico será obtido; empregos não serão garantidos e a justiça social não será implantada, mesmo que se esforcem para isso a sociedade e o governo, nos seus diversos níveis, se falir a autoridade. E é o que está acontecendo.
Já não se vive em tranqüilidade em nenhum lugar do País, notadamente nos grandes centros e até na zona rural. A anarquia que se implanta ameaça todas as conquistas que representariam o ansiado bem-estar e justiça social. Nessas circunstâncias, há que se esquecer que a vocação das Forças Armadas não é de polícia. Deve-se admitir sua presença excepcional nas ruas, combatendo o crime, porque a autoridade civil está falida.