Em meio à devastadora crise abatida sobre o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez rápida interrupção de menos de três dias em sua agenda doméstica, digamos, para cruzar o Atlântico em ambas as direções, e participar como convidado especial da cúpula do Grupo dos Oito, na Escócia.
O G8 é formado pelos sete países mais ricos do mundo e a Rússia, reunindo-se seus presidentes ou primeiros-ministros, com certa periodicidade, para debater inclusive fórmulas de desenvolvimento econômico e social das demais nações do planeta.
Para o encontro encerrado ontem foram convidados, além do presidente do Brasil, também os mandatários do México, China, Índia e África do Sul, países que na concepção da economia globalizada integram o bloco dos emergentes. Há pouco tempo, eles eram conhecidos pela denominação de países em vias de desenvolvimento.
Lula permaneceu na Escócia apenas doze horas e, ontem, discursou perante o seletíssimo clube das economias detentoras de parcela exponencial da riqueza mundial, falando exatamente de pobreza.
Desde o início do mandato, Lula tem-se notabilizado, sobretudo no ambiente externo, pelo incisivo tom que imprime ao clamor por uma ação contra a fome e a pobreza, concretizada pela determinação do chamado Eixo Sul-Sul em adotar políticas multilaterais para a distribuição eqüitativa dos lucros e o perdão das dívidas dos países pobres da África. Nesse discurso, Lula referiu-se também ao Haiti.
O retorno do presidente está marcado para hoje, e espera-se que mal desembarque já esteja anunciando os substitutos dos ministros Romero Jucá, Ricardo Berzoini, Olívio Dutra, Miguel Rosseto e Agnelo Queiroz, entre outros que devam ser exonerados ou remanejados.
Finalmente teremos a consolidação duma reforma ministerial emperrada desde a eleição de Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara, e depois pela sucessão de denúncias de vampirização da máquina pública. Sabe-se que algumas secretarias ou mesmo ministérios serão absorvidos ou simplesmente extintos.
A corrida do presidente contra a perigosa inação que ronda seu governo é desafio a ser enfrentado sem vacilações ou temores.