Os fabricantes de televisores se sentem excluídos do processo de decisão do sistema de TV digital que será adotado no País. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, acionista de uma rádio em Barbacena (MG) e ex-repórter do programa Fantástico, criou um grupo de trabalho com as emissoras para decidir sobre o assunto, mas até hoje não recebeu uma única vez a indústria. "Desde que o ministro assumiu, fizemos três pedidos formais de audiência, que não foram atendidos", afirmou Paulo Saab, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros). "Está faltando diálogo. O processo ficou opaco, perdeu a transparência."

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A Eletros faz parte do Comitê Consultivo do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD), junto com outros representantes da indústria e da sociedade civil. O grupo fez hoje, na sede da Eletros, sua penúltima reunião. O sentimento de falta de interlocução expressado por Saab é compartilhado pelos demais integrantes do comitê. Na visão do grupo, o ministro das Comunicações parece ter instalado uma estrutura paralela de decisão, desrespeitando o Decreto-lei 4.901, de 26 de novembro de 2003, que criou o comitê como instrumento de diálogo entre governo e sociedade para a decisão sobre a TV digital.

Em setembro, durante evento da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão e Telecomunicações (SET), o secretário Joanilson Ferreira, das Comunicações, informou que o ministério tinha um Plano B para o processo de decisão da TV digital, que passava ao largo do SBTVD, programa de pesquisa criado por decreto presidencial. O Plano B ficaria a cargo de um grupo de trabalho formado por radiodifusores, ministério, Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e CPqD.

A última reunião do Comitê Consultivo está marcada para 9 de dezembro. "Estamos preocupados, pois têm saído notícias de que o ministério pode tomar uma decisão antes de nosso relatório final", afirmou Saab. "Há um descontentamento generalizado." Em seus últimos discursos, o ministro tem elogiado o trabalho dos pesquisadores do SBTVD. Apesar disso, até mesmo os grupos de pesquisa se sentem desprestigiados. "Trabalhamos próximos, a indústria também participa das pesquisas."

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Saab destacou que os radiodifusores terão de fazer um investimento concentrado, para a transição, enquanto a indústria precisará investir continuamente. "Nosso foco é o consumidor", afirmou o presidente da Eletros. "Queremos o melhor modelo de negócios para o sistema digital." A idéia não é defender tecnologias estrangeiras. "Temos representantes dos três sistemas (japonês, europeu e americano) na associação", explicou Saab. "Nosso temor é que se tome uma decisão errada que inviabilize os negócios." Eles já alertaram o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, sobre o problema.