É possível que hoje, finalmente, Delúbio Soares e Sílvio Pereira, respectivamente tesoureiro e secretário-geral do diretório nacional do Partido dos Trabalhadores, tenham selado o seu afastamento dos cargos importantes que ocupam na hierarquia partidária, em razão da incômoda e gradativa revelação do seu envolvimento com o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza.
A última proeza de Marcos Valério, mais uma bomba sobre as inquietações do presidente Lula, foi a descoberta do aval e a condição de devedor solidário assumida pelo publicitário no contrato de empréstimo de R$ 2,4 milhões obtido pelo PT de um banco mineiro.
Nos últimos dias, a pressão de dirigentes e líderes políticos do partido recrudesceu no esforço pelo afastamento de Delúbio e Sílvio, havendo ainda acentuado rumor em torno da renúncia do ex-deputado José Genoino da presidência nacional.
Os jornais noticiaram ontem a disposição pessoal do presidente Lula em salvaguardar a permanência do antigo companheiro à frente do PT, para evitar o aprofundamento dos prejuízos que o governo e a legenda passaram a sofrer desde a veiculação do vídeo mostrando o suborno de Maurício Marinho, diretor exonerado da ECT, e a primeira entrevista do deputado Roberto Jefferson.
Colaboradores do presidente lamentam, depois de quase todo o leite derramado, o longo tempo concedido à fermentação das denúncias, a batalha perdida na implantação da CPMI dos Correios, os primeiros depoimentos e o cruzamento das revelações feitas à Comissão de Ética e Decoro Parlamentar e à Corregedoria da Câmara dos Deputados, além da ação investigativa da imprensa.
Compreende-se a lamentação, diante do inexplicado desinteresse do governo em resolver logo o impasse, evitando o pior, cortando na própria carne, aliás, como teria proclamado Luiz Inácio num de seus rompantes oratórios.
Ante a denúncia de que uma sobra mensal de caixa de Furnas era repassada ao PT e alguns de seus satélites, algo duvidoso mas não improvável, Lula determinou que os diretores da estatal se licenciassem até a apuração completa do assunto.
Observadores admitem que assim devia ter agido o presidente da República para administrar o problema, evitando essa exposição ultrajante. O planalto virou um brejo.
