O forte aumento das exportações chinesas de produtos siderúrgicos está preocupando o setor "em todo o mundo", conforme declarações do diretor-técnico do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Rudolf R. Bühler, em seminário para jornalistas na manhã de hoje. Segundo ele, só no primeiro semestre, os chineses exportaram cerca de 19 milhões de toneladas de aço e, mantido o ritmo atual, o volume poderá superar os 40 milhões até o final do ano.
"A China está saindo da situação de importador líquido para exportador de aço, o que altera toda o panorama mundial de aço", observou. Segundo ele, há apenas dois anos, a China foi importadora líquida de 42 milhões de toneladas de aço, o que é superior ao total da produção brasileira, em torno de 34 milhões de toneladas/ano.
Bühler disse que a "questão chinesa" é muito complexa, o que causa dúvidas nos analistas sobre a tendência do setor. Segundo ele, a China tem cerca de 800 usinas siderúrgicas, em sua maioria de pequeno porte, e há um programa oficial de renovação do parque instalado por novas unidades de grande porte. O governo chinês fixou que até 2010 o país terá duas usinas com capacidade de produção de 30 milhões de toneladas/ano cada uma e oito unidades com capacidade de 10 milhões de toneladas/ano. "O problema é que está havendo aumento da capacidade, mas não se observa o fechamento das usinas programadas", observou.
Com isso, a capacidade instalada da China já supera o seu mercado interno, com potencial para produzir até 450 milhões de toneladas/ano para uma demanda estimada de 350 milhões de toneladas/ano. A produção deste ano deverá se aproximar dos 400 milhões e o excedente será colocado no mercado internacional. O governo central está tendo dificuldades de fechar as unidades menores, que são controladas pelos governos das províncias. "O fechamento de uma usina é sempre um processo complicado, com profundos impactos locais em termos de emprego e geração de renda. Por isso, o processo está sendo mais lento do que o previsto", observou Bühler.
Além das questões locais, a produção chinesa de aço é "obscura" em termos de preços, conforme explicou. O setor é todo estatal e não há sinais claros quanto à composição de custos. Numa situação "normal", Bühler considera que muitas siderúrgicas chinesas não seriam competitivas, já que o país não tem minério de ferro e sérios problemas de suprimento de água e de energia.
"Todos sabem que há subsídios, mas não há como mensurar", comentou. Além disso, pelo próprio processo de produção, o setor siderúrgico não pode sofrer interrupção brusca na operação. "O desligamento de um alto-forno é um processo que precisa ser planejado com anos de antecedência", comentou.
Outro fator que favorece as exportações chinesas é a própria cotação da moeda daquele país, que é muito desvalorizada, enquanto no Brasil o real está apreciado em relação do dólar.