A turma do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva está descobrindo que o diabo não é tão feio quanto parece. O mesmo acontece com os que se posicionavam contra Lula e o seu PT. De repente, sentam-se à mesma mesa e até partilham dos mesmos pratos. E descobrem gostos comuns. Há na política e na administração pública o feijão com arroz, do gosto geral. Lula já não é mais um perigoso comunista. Para ele e seus seguidores, uma corte hoje engrossada por adventistas, muitos dos últimos dias, o Fundo Monetário Internacional não é mais um braço do imperialismo norte-americano e do capitalismo internacional. Nem da Alca se deve fugir como o diabo foge da cruz. Admite-se que ela tenha de ser discutida e, se convier ao Brasil, devemos subscrevê-la. Esta é hoje opinião tanto do governo que se avizinha, quanto do que vai embora.
Antônio Palocci Filho, coordenador da transição do lado de Lula e anunciadamente seu futuro ministro, conversa e até ouve conselhos do ministro Pedro Malan. Há até a hipótese, embora remota, de que Armínio Fraga, presidente do Banco Central, poderia ficar no cargo ainda por uns seis meses do governo petista, para que não haja solução de continuidade num setor extremamente sensível como o BC. Há não muito tempo, Palocci era um trotskista e Armínio Fraga, para os petistas, um lobo que iria cuidar dos cordeiros, saído do emprego de operador do especulador apátrida George Soros, para a presidência do BC do Brasil, País que deve até as calças.
O exorcismo vai mais adiante, transformando um José Sarney, sempre apontado como representante das velhas oligarquias, em um aliado de Lula. E aliados ou simpatizantes também viraram Orestes Quércia e até o baiano Antônio Carlos Magalhães. Lula é recebido com evidente simpatia, sorrisos e acepipes por Fernando Henrique Cardoso. Este veste a roupagem de vovô, olhando com simpatia e condescendência os noviços e oferecendo bem-humorados comentários e lições. E, de lambuja, um aval internacional a Lula e seu futuro governo, garantia que não dispensam e até necessitam, mas que se torna agora menos importante, pois os enviados pelo FMI consideraram seu programa de governo conseqüente e, em muitos pontos, acorde com o que deseja aquela instituição multinacional. É certo que não ficará tudo como dantes no quartel de Abrantes. O “tudo pelo social” que Sarney prometeu e não fez e os diversos projetos sociais que FHC criou, desenvolveu, mas deixa pela metade, serão substituídos por compromissos inescapáveis de Lula e do PT. Vai ter de acabar com a fome no Brasil; terá de arrumar a Previdência Social; terá de subir sensivelmente o valor do salário mínimo, mesmo que de início haja uma falseta. Tais coisas é que seriam as mudanças de rumos.
Exorcizados os fantasmas, de lado a lado, o que os futuros governantes descobrem é que o idealismo e muitas das idéias que pregavam com fidelidade cega são coisas do passado. Não porque coisas do mal ou do bem, mas em razão de se tornarem irrealizáveis neste Brasil e no mundo de hoje.
Afinal, descobrem os dois lados que guerrearam até ontem que não mais é sensato satanizar os oponentes, pois não são fantasmas amedrontadores. A situação do País, os problemas a serem enfrentados, estes sim precisam de mágicas e exorcismo, com urgência. Os problemas é que são mais feios do que estavam pintando.