Rio (AE) – O Ministério Público Federal (MPF) intimará o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, para que prestem esclarecimentos sobre um suposto esquema de propina envolvendo o INSS e a entidade, em troca da não fiscalização de grandes empresas.
Numa conversa telefônica gravada pela Polícia Federal em agosto do ano passado, a auditora fiscal Maria Auxiliadora de Vasconcellos fala com uma amiga sobre a "caixinha da Firjan", que seria recolhida pelo então tesoureiro do PT com o conhecimento e aval do ministro da Casa Civil na época, José Dirceu. Três testemunhas já confirmaram em juízo ter ouvido "rumores" sobre o esquema.
O procurador da República Vinícius Panetto, um dos responsáveis pelo caso, acusou a PF de protelar por oito meses a entrega de um CD com o monitoramento telefônico de Maria Auxiliadora, concluído em outubro do ano passado. A transcrição chegou ao Ministério Público em fevereiro, mas os procuradores aguardavam a chegada do CD para iniciar as investigações.
"Tomamos cuidado para não politizar nossa atuação, mas depois das denúncias do Roberto Jefferson e da demora em obter o CD da PF vemos que tudo o que foi dito poderia ser verdade", concluiu Panetto.
Segundo ele, o Ministério Público só conseguiu ter acesso à gravação depois que o juiz da 3.ª Vara Federal Criminal
Flavio Gualberto, ameaçou intimar a PF por obstrução da Justiça. A PF foi procurada e não retornou as ligações.
O advogado de Maria Auxiliadora, Gentil Silva Júnior, não quis confirmar o conteúdo da conversa porque o processo está sob segredo de Justiça. Mas disse que ela estaria sofrendo retaliação por haver denunciado irregularidades que teriam sido cometidas pelo superintendente do INSS no Rio, André Ilha. Ela é acusada de fraudar o órgão, foi presa em maio, mas está solta desde 28 de junho.
Ilha, que assumiu o posto em 2003 por indicação do PT, afirma que deputados federais do PMDB ligados ao deputado André Luiz (cassado este ano) tentaram indicar Auxiliadora para seu cargo "em troca do apoio ao governo".
O ex-ministro da Previdência Amir Lando (PMDB) voltou a desmentir Auxiliadora. Na fita, ela diz ter se encontrado com ele e entregue um dossiê com supostas irregularidades cometidas por Ilha. Também afirma que ele sabia da "caixinha", mas que nada podia fazer por ter sido um esquema criado no governo Fernando Henrique e mantido pelo PT.
A Firjan informou ter contratado auditores que concluíram não haver " contrato entre o órgão e Maria Auxiliadora". A Previdência Social, em nota, esclareceu que o foco de atuação está nas maiores empresas.