A ex-superintendente do Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Daerp), no interior de São Paulo, Isabel Bordini disse hoje à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, que o aumento da despesa na varrição na cidade, na segunda gestão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, como prefeito, em 2001 e 2002, deve-se ao fato de a cidade ter sido atingida por uma epidemia de dengue que obrigou a administração a reforçar o serviço de limpeza. Ela negou que tenha pressionado funcionários da prefeitura a alterarem planilhas de varrição e superfaturarem contratos em favor da empresa Leão Leão, conforme eles denunciaram ao Ministério Público (MP).
Isabel disse que a equipe de Palocci encontrou Ribeirão em situação difícil, necessitando de medidas urgentes para preservar a população da epidemia. "Pegamos uma cidade com epidemia de dengue, muito suja, com muitos problema de limpeza e que tinha três mil contratados , cujos contratos venceriam em um mês; colocamos que a limpeza era questão de saúde e tivemos de ampliar a varrição", alegou. No lugar do relator, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), que está com conjuntivite, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) mostrou a ela a diferença dos gastos com a varrição da cidade, antes e depois do prefeito Palocci.
Segundo ele, em 2000, a prefeitura pagou pela varrição de 273.031,24 quilômetros ao ano , o que correspondia à limpeza/mês de 22.752,60 quilômetros. Já no governo de Palocci, de acordo com o senador, foi cobrado pela varrição de 544.970,03 quilômetros/ano, o que dá a média mensal de 45.414,16 quilômetros varridos. Desde janeiro, Isabel ocupa um cargo de confiança na Companhia de Água e Esgoto de Brasília (Caesb). Ela é casada com o diretor-superintendente do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), Donizetti Rosa, integrante da chamada República de Ribeirão Preto, como são conhecidos os ex e atuais assessores de Palocci.
Funcionários da prefeitura afirmaram à CPI e ao MP que ela justificava o superfarturamento dos contratos alegando tratar-se de "ordens superiores". No depoimento à comissão, em 26 de janeiro, o ministro da Fazenda defendeu Isabel, dizendo que "confiava na sua integridade". Isabel afirmou que a ligação com o então vice-presidente da Leão Leão, Rogério Tadeu Buratti, era profissional. "Conheço-o desde a primeira administração do prefeito Palocci, mas não tínhamos contatos de jantar fora ou de ir a casa dele; era um contato profissional", alegou. Mas o contato parece bem próximo na gravação mostrada pela comissão, na qual ela lhe passa pontos da conversa que teve com o "patrãozão". Questionada, disse não se lembrar se estava se referindo a Palocci ou ao substituto dele no cargo, Gilberto Maggione (PT). A certa altura da conversa, Isabel reclamara que "romperam meu acordo, dizem que aumentaram as metas do lado de lá", só que alegou não saber a que estava se referindo.
