O empresário português Jorge Alves, 56 anos, tem levado uma vida de caixeiro de viajante. Ele sai de Curitiba na segunda-feira e só volta para a mulher e as três filhas na sexta-feira à noite. Às vezes, quando sobra tempo, passa em casa no meio da semana. Num dia, está em Maringá, Cuiabá ou Porto Velho. No outro, voa para São Paulo, Campo Grande ou Chapecó. Recentemente, incluiu Fortaleza, Buenos Aires e Portugal no roteiro.

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Alves conhece um quarto de hotel como poucos. Mas não se trata de um hóspede qualquer. Ele é o dono da rede Bristol, a sétima maior cadeia de hotéis do Brasil, com 18 unidades e outras duas a serem inauguradas até o fim do ano. Ele tem quatro aberturas previstas para 2007 e também negocia hotéis em Buenos Aires e Portugal

Alves veio para o Brasil em 1992 para comandar um hotel de uma rede francesa. Conheceu uma baiana, sua atual mulher, e por aqui ficou. Dois anos depois, abria o seu próprio hotel em Curitiba com investimento de terceiros. De lá para cá, todos os seus empreendimentos são operados assim. "Não tem nada melhor que trabalhar com dinheiro dos outros. Não conta para ninguém", diz um bem-humorado Alves.

O seu trabalho é criar o produto – um hotel que pode ou não ser erguido do zero – atrair investidores e administrar o empreendimento. A Bristol é uma administradora de hotéis, assim como quase todas as grandes cadeias no Brasil.

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Alves diz ter crescido rapidamente porque optou por uma fórmula agressiva de convencer os investidores a apostarem no seu negócio. Em vez de ficar com um percentual sobre o faturamento líquido dos hotéis, prática comum nesse tipo de sociedade, o empresário propõe uma participação – de 8% a 15% – sobre o lucro líquido. Ou seja: Alves só ganha se o hotel lucrar também. O faturamento da rede é de R$ 70 milhões.

Concorrência

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Essa modelo força Alves a levar a sério o velho ditado que diz que o olho do dono engorda o gado. " Eu só ganho se o investidor ganhar. É por isso que eu viajo tanto", brinca.

Esse estilo de trabalho fez com que a Bristol montasse um estande de vendas – semelhante ao que incorporadoras fazem no lançamento de imóveis – na saída do terminal 2 do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. "No passado, o sujeito abria o hotel e esperava o cliente aparecer. Hoje a gente tem de ir atrás dele. Não tem milagre". Depois do estande, montado há sete meses, a ocupação do seu hotel de Guarulhos dobrou.

A concorrência nesse ramo não é fácil. Há fortes grupos estrangeiros no setor, como o francês Accor, para quem Alves já trabalhou, o espanhol Meliá e os americanos da InterContinental. A hotelaria vive um momento de consolidação, com redes pequenas, flats e hotéis familiares sendo vendidas a grandes cadeias. "Grupos como Blue Tree, Accor e Bristol estão se beneficiando muito desse momento", diz Eduardo Lara, diretor-executivo da Blue Tree. "Hotelaria virou negócio grande no Brasil".

A rede Blue Tree tem 27 empreendimentos e seis hotéis em construção. Ao contrário de Alves, ela começa a maioria dos seus hotéis do zero. "O Bristol assume muitos hotéis que eram de outras bandeiras, mas eu não acredito muito nesse modelo. Prefiro começar do zero, porque o hotel já nasce com todas as novidades tecnológicas", diz Lara. Na rede Bristol, um terço dos hotéis começa do zero.

Alves praticamente nasceu no mundo do turismo. Ele saiu de Portugal com 14 anos para lavar prato num restaurante em Paris. Desde então, nunca mais atuou fora do circuito gastronomia-hotelaria. Trabalhou em 12 países antes de mudar-se para o Brasil. Os hotéis sempre foram sua segunda casa. Agora mais do que nunca.