No centro do atual escândalo político, a DNA Propaganda, que ostentava o título de maior agência de publicidade de Minas Gerais, vai encerrar suas atividades, segundo informou o presidente da empresa, Francisco Castilho.
A DNA tinha como sócio o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza – a rescisão do contrato está sendo concluída – e tombou depois que se viu envolvida na crise do "mensalão" e denúncias de financiamentos irregulares a campanhas eleitorais.
"O futuro da DNA é sombrio, se é que há futuro. A DNA perdeu, praticamente, todos os seus clientes. A empresa está sendo desativada", admitiu Castilho, em entrevista ao Grupo Estado, por e-mail, na última semana. Dos 76 funcionários da DNA em Belo Horizonte, pelo menos a metade não trabalha mais na agência, que já havia demitido 34 de seus 39 funcionários da filial de Brasília. Os empregados restantes estariam cumprindo aviso prévio.
Fundada em 1982, a DNA apresentou um crescimento acumulado de 107.3% nos últimos quatro anos. Apesar do fim das atividades, a marca e o CNPJ serão mantidos, pois a agência responde a processos na Justiça. A empresa, por exemplo, contesta judicialmente uma multa de R$ 63,2 milhões aplicada pela Receita Federal e sofre ação de execução movida pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que cobra dívidas previdenciárias no valor total de R$ 9,608 milhões.
A Justiça Federal em Minas Gerais havia determinado o bloqueio das contas bancárias da DNA e que os créditos a receber pela agência fossem depositados em juízo para a substituição, a pedido do INSS, da garantia dada para cobrir as dívidas previdenciárias – seis propriedades rurais na Bahia, no nome da agência, suspeitas de serem fictícias. A 23ª Vara da Justiça Federal em Belo Horizonte acatou recurso apresentado pela DNA, retendo apenas o bloqueio da comissão da empresa, que varia de 8% a 15% do contrato publicitário.
Clientes
Desde o início da crise política, a agência mineira perdeu seus principais clientes. Os contratos com o Banco do Brasil, Eletronorte e Ministério do Trabalho foram rompidos. Mais recentemente, a Telemig Celular, um dos maiores clientes privados da carteira da DNA, anunciou que encerrou o contrato que mantinha com a agência.
O governo de Minas Gerais chegou a anunciar a suspensão do contrato publicitário da DNA com Secretaria de Saúde, e outras pastas estaduais, no valor global de R$ 3,6 milhões. A agência, porém, informou que a conta continuou sendo atendida, mas o contrato está terminando.
DNA e SMP&B Comunicação participaram da nova licitação para o atendimento da conta da administração direta do governo estadual – no valor ampliado de R$ 55 milhões -, mas não ficaram entre as seis selecionadas.
"Novo projeto"
O mercado publicitário mineiro acredita que a SMP&B deverá também fechar as portas, mantendo apenas o registro por causa das pendências judiciais. O fato é que os sócios das duas agências já se mobilizam na constituição de novas empresas. "Fecharemos as portas, não os caminhos", disse Castilho. "Vou continuar trabalhando com publicidade, por paixão e por necessidade. Ainda não defini, com alguns companheiros publicitários, nem como nem quando iniciaremos o novo projeto".
Entre os "companheiros", é dado como certo que não estarão os sócios da SMP&B – Cristiano de Mello Paz e Ramon Hollerbach Cardoso. A DNA alega que foi "arrastada" para a crise. "Os sócios da SMP&B seguem novos rumos, independentemente de nós", assegurou Castilho. "O Cristiano e o Castilho não seriam sócios nunca, eles não se topam", avalia uma fonte do mercado.
As duas agências sempre foram rivais, mas em dificuldades financeiras, fizeram um acordo societário em meados da década de 90, promovido pelo atual vice-governador de Minas, Clésio Andrade (PL) – que colocou Marcos Valério na empresa. O homem acusado de ser o operador do mensalão ocupava o cargo de vice-presidente financeiro e, por meio da Grafitti Participações Ltda., comprou a participação de Clésio na agência em 1998. A Grafitti tem como sócios Ramon Cardoso e a mulher de Valério, Renilda Maria Santiago.
Na SMP&B, os planos futuros são tratados com mais reserva. A empresa – que também perdeu diversas contas públicas, principalmente a dos Correios – já anunciou uma redução de 35% no seu quadro funcional. Assessores afirmam que os sócios raramente são vistos na empresa. Paz, um dos fundadores, tem preferido se dedicar aos "estudos bíblicos".