Brasília, 09 (AE) – Em depoimento hoje como réu no julgamento da montagem do Dossiê Cayman, o ex-diretor da Polícia Federal Vicente Chelotti disse que recebeu ordens do então presidente Fernando Henrique Cardoso para omitir um documento assinado pelo advogado da empresa CH,J&T, Emerick Knowles, que isentava FHC, o ex-ministro José Serra e o então governador Mário Covas de serem donos da empresa nas Bahamas, mas omitia o nome do então ministro das Comunicações, Sérgio Motta.
“Recebi ordens para não informar a ninguém sobre o documento porque o presidente Fernando Henrique considerou a informação uma questão de Estado, para ficar em segredo”, disse Chelotti na 10.ª Vara da Justiça Federal em Brasília. Com isto, Chelotti confirma as razões que levaram os delegados a indiciá-lo e à um procurador federal a denunciá-lo pelo crime de falsidade ideológica. O crime ocorreu quando Chelotti voltou da viagem às Bahamas com o documento do advogado, mas omitiu a informação do relatório feito aos delegados responsáveis pela investigação do caso.
Chelotti informou à juíza Maria de Fátima pessoa Costa que antes de viajar às Bahamas, esteve reunido com Serra, o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Milton Seligman, e até Nelson Jobim, que já era ministro do Supremo Tribunal Federal, e recebeu ordens do grupo para ir buscar o original do documento e conseguir que o advogado da empresa CH,J&T também emitisse outra carta isentando também Sérgio Motta de responsabilidade pela empresa.
Ao omitir o documento das Bahamas do inquérito policial, o então diretor da PF preferiu seguir uma determinação do Palácio do Planalto que tinha pressa em esclarecer o caso, ao invés de colaborar com os delegados seus subordinados para a conclusão do inquérito. Mesmo atrapalhados pela ação de Chelotti os delegados Paulo de Tarso e Jorge Pontes depois descobriram que Sérgio Motta também não era responsável pela empresa.
A assinatura do ex-ministro já falecido foi copiada de um documento público por uma servidora do ministério das Comunicações que passou a Francisco Sena e este a Roberto Barusco, um dos falsificadores do dossiê que morava em Miami, Estados Unidos. Esta cópia da assinatura do ex-ministro foi a origem de toda a falsificação.
Também prestou depoimento hoje o ex-diretor da Interpol brasileira, o delegado aposentado Washington Melo. Ele também é réu no caso porque ajudou a esconder o documento emitido pelo advogado da CH,J&T. Foi Washington quem primeiro obteve o documento nas Bahamas e repassou via fax para a casa de Chellotti. Com o fax em mãos, o ex-diretor da PF reuniu-se com Serra, Seligman e Nelson Jobim. “Quando voltei das Bahamas deixei o original do documento com o presidente Fernando Henrique”, informou Chelotti.
O principal falsificador do dossiê, o empresário Honor Rodrigues da Silva, continua com o pedido de prisão pedido e por isto não apareceu.
Seu advogado Getúlio Humberto informou que Honor está no México e pediu á juíza que fosse ouvido no exterior por carta precatória. Ainda este ano a Justiça ainda vai ouvir mais dois réus, o empresário Leopoldo Collor, irmão do ex-presidente Collor, e Cláudio Ferraz da Silva, compradores do falso dossiê.
Ex-diretor da PF diz que FHC o mandou omitir documento
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