Europeus ainda tentam convencer comitiva brasileira sobre TV digital

Europeus envolvidos na escolha da TV digital ainda não desistiram de levar também para a Europa a delegação de ministros que está em viagem ao Japão, negociando a instalação no Brasil de uma fábrica de semicondutores, que é uma das condições para a escolha do padrão digital de televisão. Com os principais interlocutores do governo fora do Brasil, o assunto está em compasso de espera tanto no Palácio do Planalto quanto entre os concorrentes do sistema japonês: europeus e americanos.

A idéia de visitar governos e fábricas na Europa foi apresentada ao governo brasileiro pelo embaixador da União Européia no Brasil, José Pacheco, no mês passado, logo após o ministro das Comunicações, Hélio Costa, defensor do sistema japonês, ter anunciado a viagem ao Japão. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, que também está no Japão, é um dos que defendem a ida à Europa, mas ainda não há garantia de que a viagem ocorrerá realmente.

Interlocutores das empresas que compõem a Coalizão DVB Brasil (Philips, Nokia, Rhode&Schwarz, Siemens, ST Microelectronics e Thomson), que defende a adoção do modelo europeu, disseram que além da sugestão do embaixador, convites já foram encaminhados às autoridades brasileiras por governos de países onde estão instaladas as principais fábricas, como França e Holanda. Eles esperam a manifestação formal do governo brasileiro, mas a expectativa deles é de que a viagem possa acontecer no fim deste mês ou no início de maio.

A holandesa Philips e a franco-italiana ST Microelectronics, inclusive, já manifestaram ao governo brasileiro a intenção de instalar no Brasil uma fábrica de semicondutores. Mas as companhias condicionaram a proposta a estudos de viabilidade econômica, que levam cerca de um ano para serem concluídos, mesmo prazo previsto anteriormente pelos japoneses.

Para que a viagem ocorra, ela tem de ser autorizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que escalou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, para chefiar a comitiva que está no Japão. A ausência de Amorim na mesma semana em que a presidente do Chile, Michelle Bachelet, está no Brasil, reforça a importância das negociações com os japoneses.

A viagem ao Japão também ganhou peso ao serem confirmados encontros com a alta cúpula do governo japonês, incluindo até o primeiro-ministro Junichiro Koizumi. Encontros como esses, segundo interlocutores do lado europeu, não são substituídos por cartas ou e-mails, e é por isso que os defensores do padrão DVB, da Europa, insistem na visita dos ministros brasileiros também a países europeus.

Negociação oficial com o Japão começa amanhã

Renato Cruz, enviado especial/AE

A delegação de ministros brasileiros trabalha para consolidar, com o governo local, a proposta do Japão para que seu sistema seja adotado na TV digital brasileira Faltam poucos detalhes. O principal é um compromisso concreto de investimentos na área de semicondutores no Brasil. "Construir um ecossistema de microeletrônica no País é um condicionante forte", afirmou Jairo Klepacz, secretário de Tecnologia Industrial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A agenda oficial começará amanhã (12) na capital japonesa.

A comitiva é formada pelos ministros Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Celso Amorim (Relações Exteriores) e Hélio Costa (Comunicações). Até hoje (11) à noite, Costa não tinha chegado ao Japão. Também participam Klepacz, André Barbosa Filho (Casa Civil), Augusto Gadelha (Ciência e Tecnologia), Roberto Pinto Martins (Comunicações) e Edmundo Machado de Oliveira (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial). Os dois últimos chegariam amanhã.

O embaixador do Brasil em Tóquio, André Amado, disse que não está prevista, durante a visita, a assinatura de nenhum documento pelos países. "Mas não quer dizer que não acontecerá", completou. Amorim afirmou que o objetivo é negociar: "Muitas coisas já foram entendidas, e agora precisam ser fixadas de forma mais clara." A idéia é consolidar tudo o que foi conversado sobre o tema nos últimos meses.

É consenso hoje no governo que os japoneses, com seu sistema ISDB, apresentaram as melhores propostas para a TV digital. Ainda é preciso colocar tudo o que foi falado num documento, o que, se tudo correr bem, deve acontecer por aqui.

Sobre a Europa, com seu sistema DVB, a avaliação é que os esforços não foram tão bem coordenados. Numa reunião em Brasília um representante da fabricante européia de semicondutores ST Microelectronics chegou a falar que, para ele, não importava qual padrão o Brasil iria adotar, pois era capaz de fazer chips para todos. Os americanos, com seu ATSC, não conseguiram incluir um fabricante de semicondutores na sua proposta.

O resultado da viagem ao Japão será apresentado em relatório ao presidente Lula na próxima semana, mas não há nenhuma data marcada para a decisão sobre o padrão de TV digital a ser adotado no Brasil. Uma eventual desistência de visitar a Europa, no entanto, pode reforçar a tendência verificada entre integrantes do governo de apoio ao modelo japonês.

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