O sistema de controle aéreo da Europa exigiu, há mais de um ano, que fossem modificados os aviões da Embraer equipados com o mesmo tipo de transponder do Legacy que se chocou com o Boeing da Gol. Uma norma do início de 2005 da Agência Européia para a Segurança da Aviação (conhecida pela sigla Easa) deu prazo até agosto de 2005 para as mudanças. ‘Caso contrário, não autorizamos que essas aeronaves operem na Europa’, afirmou Kevin Hallworth, responsável pela aplicação das leis e regras da Easa
A agência cobra do proprietário do avião a modificação do transponder para autorizá-la a operar no espaço aéreo europeu. ‘A mudança consiste em trocar o software’, explicou Hallworth. A norma só não específica quem deve fazer a modificação: o fabricante do aparelho (Honeywell), o da aeronave ou a compradora do avião
Os advogados dos pilotos americanos que tripulavam o jato fabricado pela Embraer argumentaram que o transponder do aparelho, um RCZ 833 Mode S da Honeywell, não estava funcionando na hora do acidente. O transponder transmite dados sobre o número do vôo, a altitude, a velocidade e a direção da aeronave. O sistema permite o funcionamento do sistema anticolisão (TCAS), disparando alarmes quando aviões ficam muito próximos e evitando choques em pleno ar. Tanto o Boeing quanto o Legacy foram equipados com o TCAS
O argumento dos advogados confirma alegações de controladores do tráfego aéreo no Brasil. Os técnicos brasileiros afirmaram que o transponder do Legacy parou de transmitir dados pouco antes do choque com o Boeing. Por isso, eles não puderam verificar a altitude do jato executivo, corrigi-la e, assim, evitar o choque
Os controladores brasileiros não foram os primeiros a sofrer com o problema do transponder. Em 2004, as equipes da rede formada pelas torres de vôo da Suíça – o complexo Skyguide – começaram a investigar por que certas aeronaves sumiam dos radares e reapareciam logo depois. ‘Vimos que esse problema começava a ocorrer com freqüência crescente, e descobrimos que se tratava de uma falha de funcionamento no transponder’, disse Patrick Herr, porta-voz do Skyguide. Segundo ele, os investigadores da empresa suíça coletaram evidências e informaram às autoridades do país. O transponder deficiente era o mesmo Honeywell RCZ 833 usado no Legacy
Um desses investigadores foi Andrea Motta, que confirmou ao Estado o problema e explicou que, na maioria das vezes, a interrupção na transmissão ocorria quando o avião passava de uma zona de controle do tráfego aéreo para outra. Diante da gravidade da descoberta, os suíços repassaram a informação para a Easa, que exigiu as modificações. Os jatos ERJ 145 e ERJ 135 da Embraer foram colocados na lista dos que precisariam ter o transponder modificado, assim como aviões Cessna e Bombardier
Segundo Hallworth, o Legacy não fazia parte da lista porque ainda não estava em operação na época. ‘Mas deixamos claro que todo aparelho similar aos que nós listávamos deveria ser modificado. É óbvio que não tínhamos condições de relacionar todos os modelos do mundo que levam esse transponder.