A mais alta representante da Casa Branca para o Comércio, Susan Schwab, alerta que não fará nenhuma nova proposta de liberalização agrícola na Organização Mundial do Comércio (OMC) e volta a insinuar que Brasil e Índia podem ficar de fora do sistema de preferências tarifárias dos Estados Unidos. Há duas semanas, Washington iniciou uma revisão de seu mecanismo criado há 32 anos, que facilita a exportação de quase 20% de tudo o que o Brasil vende ao mercado americano.
Parlamentares e funcionários dos Estados Unidos têm declarado que Brasília e Nova Délhi deveriam ser excluídas do sistema como uma forma de represália ao comportamento desses dois países nas negociações fracassadas da OMC. Há menos de um mês, o presidente do Comitê de Finanças do Senado americano, Charles Grassley, foi um dos que defenderam a tese.
Schwab, em declarações durante sua visita à Ásia ontem, negou que a revisão do que é conhecido como Sistema Geral de Preferências (SGP) esteja sendo uma arma para obter novas concessões. "Isso está errado", disse. Mas admitiu que o "sentimento" de alguns parlamentarem era o de não dar mais preferências a países que não fazem "ofertas sérias para cortar tarifas".
A representante da Casa Branca preferiu dar outra explicação para uma eventual exclusão do Brasil e outros países emergentes do sistema. "A revisão tem uma relação maior com os objetivos de desenvolvimento do programa SGP. Ou seja, temos de ver se os países que mais precisam de preferências estão sendo de alguma forma feridos ou excluídos por países em desenvolvimento mais avançados", avaliou.
Na prática, o que Schwab argumenta é que a revisão estaria ocorrendo para corrigir eventuais distorções no mecanismo de preferências. O sistema teria como objetivo ajudar os países em desenvolvimento, mas não todos. Alguns, como Brasil e Índia, portanto, poderiam estar ocupando o lugar de outros. Para diplomatas brasileiros consultados pelo Estado, o argumento não parece convincente.
Apesar de fazer o alerta sobre uma eventual exclusão de alguns países emergentes do sistema, a representante de Washington deixou claro que não cabe aos Estados Unidos sozinhos, por meio de uma nova proposta, retomarem as negociações da OMC, suspensas há pouco mais de um mês. Schwab apontou que os americanos não farão uma nova oferta unilateral de corte de subsídios, como pedem europeus e os países emergentes.
"Os Estados Unidos sozinhos não podem e não irão retomar o processo", disse Schwab. Segundo ela, Washington já fez proposta unilateral em outubro de 2005 em relação à liberalização agrícola, mas outros países não acompanharam o processo com propostas do mesmo nível de ambição.
Com viagens marcadas para o Brasil e a Austrália em setembro, Schwab afirma que ainda não desistiu de fechar um acordo até meados de 2007.