São Paulo – O governo dos Estados Unidos está interferindo diretamente no processo de venda para a Colômbia de 40 aviões brasileiros Emb-314 de ataque leve. São turboélices Super Tucano, produzidos em São José dos Campos pela Embraer. O valor do contrato é estimado em US$ 234 milhões. A aviação militar colombiana considera o emprego do equipamento nas missões antiguerrilha contra as Forças Armadas Revolucionárias (FARC) nas regiões de selva e de montanha. No dia 7 de outubro, a ministra da Defesa da Colômbia, Marta Lucia Ramirez, enviou correspondência reservada à embaixadora do Brasil em Bogotá, Maria Celina de Azevedo Rodriguez, comunicando que a Força Aérea Colombiana (FAC) havia iniciado um processo de compra direta para reposição de aviões de combate. Na carta, Marta Lucia solicita que a embaixadora convide empresas brasileiras para participar do empreendimento, sem mencionar valores. Três dias depois, um memorando do chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, general James Hill, para o Comandante das Forças Militares da Colômbia, general Jorge Enrique Mora Rangel, aconselhou a FAC a desistir do negócio e atender às necessidades mais prementes, como a modernização da frota de aviões de transporte C-130 Hércules. O general Hill é claro: “Estou preocupado com o plano da Força Aérea colombiana de gastar US$ 234 milhões para adquirir uma nova aeronave leve de ataque (…), particularmente num momento em que o governo dos EUA financia a um custo de mais de US$ 34 milhões os programas de modernização dos aviões OV-10 e A-37 (…) que aprimorados oferecerão muitos dos recursos presentes na aeronave leve de ataque”. Mais incisivo, o general americano adverte: “O Congresso dos EUA pode não ver favoravelmente essa compra; isso poderia influenciar negativamente a aprovação no legislativo de financiamentos adicionais.” Na sexta-feira, em Brasília, o Palácio do Planalto e o Ministério das Relações Exteriores não quiseram comentar o episódio, alegando desconhecimento. A vice-presidência para o Mercado de Defesa da Embraer informou que “a companhia não se manifesta sobre negociações em andamento”. Há quatro meses, oficiais da Colômbia estiveram na empresa para conhecer e experimentar o Emb-314 na duas versões, – A-29 (de ataque) e AT-29 (ataque e treinamento) – desenvolvidas para a Força Aérea Brasileira (FAB) como braço armado do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam). A FAB comprou 76 unidades por US$ 400 milhões. Outros dez aviões foram fornecidos à República Dominicana para vigilância do espaço aéreo nas fronteiras e repressão a aviões clandestinos a serviço do narcotráfico. O novo A-29AT-29 é resultado do Projeto ALX, baseado no Emb-312 Tucano, um sucesso internacional de vendas, usado para treinamento de militares e missões de combate leve por 15 países, entre eles Egito, Grã-Bretanha e França. A Colômbia mantém 12 aviões Emb-312 em três esquadrões usados na luta contra as Farc e na preparação de oficiais aviadores. Os militares da FAC definiram como adequada à sua operação uma configuração muito semelhante à da FAB, cujo preço médio, com suprimentos básicos, é estimado em US$ 5 milhões. Além dos aviões, os colombianos se interessam por mais provisões, totalizando um valor máximo estimado em US$ 234 milhões. Essa cifra, embora discutida com os militares e funcionários colombianos, não consta de qualquer documento regular, segundo revelaram ao Estado fontes ligadas à exportação de material de defesa. A rigor, a carta da ministra Rincon para a embaixadora Rodriguez é o primeiro movimento formal da operação de fornecimento. “As vendas são tratadas primeiro de governo a governo; aspectos financeiros entram na agenda da segunda fase, quando usuários e empresas sentam-se na mesa de discussões”, explica um experimentado negociador brasileiro.
O Super Tucano é uma solução engenhosa, que combina eletrônica digital equivalente à encontrada nos grandes aviões supersônicos de combate com a simplicidade dos monomotores leves. Protegido por uma blindagem de fibra Kevlar, tem motor de 1.600 shp e pode voar em patrulha de longa duração mantendo velocidade de cruzeiro de 513 km por hora. A velocidade máxima é superior a 560 km por hora. Armado e abastecido, decola com peso máximo de 4,9 toneladas, das quais 1,5 mil quilos são representados por cargas bélicas externas – mísseis ar-terra, bombas livres ou guiadas, foguetes, 2 metralhadoras .50 ou um canhão de 20 mm e dois mísseis.
Os aviões que o general James Hill considera aptos a cumprir as mesmas funções foram desenvolvidos há 40 anos. O jato A-37 Dragonfly e o turboélice OV-10 Bronco são veteranos da guerra do Vietnã e não integram a frota militar americana. O programa de modernização a que se refere a carta do chefe do Comando Sul do Pentágono, com sede em Miami, é limitado a novos sistemas de comunicações, expansão da capacidade de ataque noturno e incorporação de um computador integrado de combate. A Força Aérea colombiana opera 20 Cessnas A-37 e 13 Rockwell OV-10. A capacidade de armamento de ambos é de 1,6 mil quilos.