EUA perderão

Salvo um milagre de Alá ou um castigo do Deus dos cristãos, os Estados Unidos vencerão, com a Grã-Bretanha e outros aliados interessados, a guerra contra o Iraque. E não são exageradas as previsões de que será uma guerra curta, tal o poder militar dos norte-americanos e a insensatez de seu presidente George Bush, que não está vendo vidas queimadas por suas bombas, mas bombas de petróleo enriquecendo ainda mais o seu país.

A condenação da ONU e do mundo inteiro, inclusive do papa, pouco importam ao presidente americano. Ele parece ter convencido um grande número de seus concidadãos que as vidas dos iraquianos não valem nada e as dos jovens militares dos EUA poderão ser justificadamente imoladas em nome de uma vingança contra o terrorismo e a neura que desencadeou. Saddam é um ditador sanguinário, o que facilita a propaganda da guerra. E sem nenhum juízo, pois afirma, sem justificar, que o Iraque ganhará a guerra. O Iraque certamente não ganhará, mas os Estados Unidos perderão. Não nos combates, com seus foguetes e bombas de milhões de dólares, mas com a sedimentação de uma imagem autoritária, pretensiosa, imperialista, de donos do mundo, que vêm plantando há décadas. Os Estados Unidos aparecem diante das nações menos ricas do planeta como um destino de prosperidade, ambicionado para a emigração, mesmo ilegal, por povos de diversos países. Mas também é verdade que, de um lado nos países comunistas durante toda a guerra fria, e, de outro, nos países pobres e em desenvolvimento, onde a disputa capitalismo versus socialismo sempre se travou, a imagem dos Estados Unidos sempre foi de um país com pretensões de ser o dono do mundo, arrogando-se ao direito de intervir onde quer que considerasse que seus interesses econômicos, políticos ou ideológicos, possam estar sendo ameaçados ou apenas contrariados.

Nas muitas guerras em que os norte-americanos se envolveram, e que custaram muitas vidas, inclusive de seus concidadãos, uma ou outra foi moralmente justificável. Mas na maioria das vezes houve arbitrário exercício das próprias razões, sem nenhum respeito pela autonomia de outros povos. Invadiram os países que desejaram, derrubaram governos, impuseram governantes marionetes e estabeleceram condições econômicas que favoreceram seus interesses. Este posicionamento arbitrário agora chega ao máximo. Mesmo povos que nunca negaram apoio ou pelo menos compreensão para com os Estados Unidos, nas guerras que travou, agora o condenam. Condenam Bush e os Estados Unidos, publicamente, a ONU, o papa, Mandela, Lula, a Rússia, a França, a Alemanha e muita gente mais que está revoltada com a ousadia e desfaçatez do presidente norte-americano. Ganhando a guerra contra o Iraque, e mesmo surrupiando o seu petróleo, o principal interesse econômico dessa disputa, a grande nação do Norte terá, por décadas, senão séculos, de viver a neurose de atentados. Onde os norte-americanos forem, ouvirão, com mais freqüência do que durante a guerra fria, os gritos de “americans, go home”. Espalhar-se-á mundo afora uma antipatia pelos Estados Unidos que alianças, ajudas financeiras ou outros agrados que eles sempre fizeram, mas nunca souberam fazer, não conseguirão reduzir.

Serão olhados como tiranos. Talvez o americano comum, do povo, não mereça isso. Mas é a imagem que está construindo. Os EUA ganharão a batalha, mas perderão a guerra. Está escrito!

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