Ética versus carisma

Imaginando o até há pouco mais provável cenário sucessório, a opinião pública, os analistas e os políticos esperavam que Lula, candidato à reeleição, iria desenvolver um discurso usando e abusando do carisma que ninguém lhe nega. Aliás, o próprio The Wall Street Journal, principal jornal econômico norte-americano, acaba de publicar artigo ressaltando o carisma do atual presidente do Brasil como uma de suas principais armas para permanecer no Planalto. Lula também rechearia sua campanha de comparações, para o público um tanto nebulosas, mas palatáveis, entre o seu período de governo e o de seu antecessor Fernando Henrique Cardoso, buscando mostrar que fez muito mais e melhor. Isso atingiria José Serra, se este fosse o candidato, o que a maioria esperava, inclusive o próprio Lula. É que Serra, além de ter sido por duas vezes ministro de FHC, foi o seu candidato na disputa com Lula em que este venceu em todo o País.

Assim, atacando o governo FHC, estaria enfraquecendo a candidatura Serra, do PSDB, sem dúvida um forte candidato, porém com esse calcanhar-de-Aquiles atingível desde que através de competentes discursos, mesmo que demagógicos, no que Lula é mestre.

A escolha do governador paulista Geraldo Alckmin como o candidato tucano parece que não agradou ao presidente e candidato Lula. Alckmin não tem o seu carisma nem é tão conhecido em todo o País quanto o é José Serra. Terá de construir a sua imagem Brasil afora durante a campanha.

Ocorre que é muito difícil ligar o nome Alckmin a FHC, transferindo para aquele os descontentamentos populares com a dupla administração deste. Alckmin era um homem ligado ao governador Mário Covas, sucedeu-o quando o chefe do Executivo paulista morreu e ocupou seu lugar, como governador do maior e mais poderoso estado brasileiro, logo depois, via eleições. O nome Geraldo Alckmin não se dissocia de Covas e este representou na vida pública brasileira um administrador e político ético. E também popular.

Assim, é de se esperar que a campanha de Alckmin seja feita estruturada numa imagem de político ético. Ético, experiente, competente e ligado a Covas. Distante de FHC, para não ser contaminado pelos males que o candidato do PT lhe atribui e pretendia transferir para Serra. A falta de carisma de Alckmin, que sobra em Lula, deverá ser compensada pelo estilo que ele utilizou desde que se declarou candidato: falar sem papas na língua. E, aí, sobram argumentos para combater Lula e seu governo, pois seu ponto fraco foi exatamente de ordem ética e duvidosa competência de sua equipe.

Lula continua sendo o candidato preferido das massas, mas os sete meses de campanha que faltam e as novas armas que serão usadas nessa disputa podem pôr em risco a posição até aqui inabalável do presidente como candidato à reeleição. Há quem entenda que tudo se resolverá no primeiro turno e, ainda, que apesar de suas evidentes vantagens eleitorais, Lula teme mais Alckmin que Serra.

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