Encomendada pelo Ministério do Meio Ambiente, a série de estudos deverá servir como ponto de partida para uma discussão considerada essencial por Marina: a criação de um Plano Nacional para enfrentar o aquecimento global. Informalmente, a ministra já iniciou a discussão com alguns colegas de governo. A expectativa é de que, agora, com os estudos em mãos, o assunto seja levado oficialmente ao presidente Lula. ?Em quatro meses, é possível já ter um esboço deste plano?, calcula o secretário de Biodiversidade e Florestas, João Paulo Capobianco.
A pressa da equipe do ministério se explica. Quanto mais rápido o processo for iniciado, maiores as chances de se tirar benefícios da comoção criada com a divulgação do Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC), no início deste mês. No relatório internacional, as previsões são igualmente preocupantes. ?Não somos ingênuos em imaginar que, se fizermos nosso dever de casa, estaremos livres dos problemas. É preciso um esforço mundial, que todos os países ingressem nessa luta?, afirmou a ministra.
Os projetos tiveram como principal financiador o Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (Probio) e foram desenvolvidos por mais de dez instituições de pesquisa. Também integraram o projeto o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Fundo Global para o Meio Ambiente, o Banco Mundial e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Zoom no Brasil
Os trabalhos avaliam desde mudanças gerais do clima brasileiro, o impacto das mudanças no Pantanal e no litoral do Rio Grande do Sul, até projeções sobre o efeito da elevação do nível do mar no litoral sul paulista. Para fazer este último estudo, foi construída uma maquete da baía e do estuário de Santos e de São Vicente.
Um dos estudos fez uma projeção do prejuízo provocado pelo aumento do nível do mar na Ilha dos Marinheiros, no estuário da Laguna dos Patos. Pela projeção, a elevação de 10 centímetros da laguna provocaria uma perda anual de R$ 11 mil. Com um metro de elevação, o prejuízo, provocado pela perda da área agricultável, seria de R$ 780 mil anuais. O estudo, porém, é apenas o primeiro passo. Não há, ainda, estimativas de quais seriam os prejuízos financeiros provocados pelo aumento do aquecimento global no Brasil. Ou mesmo quanto custaria para fazer um plano de emergência. ?Tudo isso virá agora, numa segunda etapa?, explicou Capobianco.
A intenção é de que os trabalhos continuem a ser realizados, tanto para refinar as projeções quanto para verificar quais as conseqüências que já podem ser sentidas pelo aumento do aquecimento. ?Este foi um zoom do painel internacional?, resumiu o pesquisador do Instituto de Pesquisas Espaciais, José Antonio Marengo, um dos autores dos oito estudos apresentados ontem.
Marengo também é co-autor do documento do IPCC, que é feito regulamente por pesquisadores de todo o mundo sobre as mudanças climáticas. Para o pesquisador, a tarefa essencial agora é detectar quais as áreas mais vulneráveis brasileiras. E, a partir daí, estudar ações para reduzir os impactos sobre a população.
A ministra Marina Silva mais uma vez defendeu a posição brasileira, afirmando que o País reduziu o desmatamento em mais de 50% nos últimos dois anos e, com isso, impediu a emissão de 430 milhões de toneladas de carbono na atmosfera. Ela observou, porém, que embora seja ambientalmente limpa, a matriz energética do Brasil, fundamentada sobretudo nas hidrelétricas, tem de ser diversificada.
A preocupação é que, com o aquecimento global e a redução da oferta de água, a produção de energia caia de forma drástica. Para Marina, tal risco deve fazer com que o País procure diversificar suas fontes de energia. Excetuando a atômica – como alguns de seus colegas de governo defendem. ?Esta (a construção da usina de Angra 3) não é a melhor solução?, afirmou.