Pesquisadores de Salvador (BA) vão estudar, a partir de janeiro, se o uso de drogas lícitas e ilícitas pode interferir no tratamento anti-retroviral. O tema foi selecionado entre os projetos de pesquisa que receberão verbas do Ministério da Saúde e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para estudos sobre aids e outras doenças sexualmente transmissíveis. Ao todo, serão destinados R$ 5,8 milhões para 28 pesquisas selecionadas.
O infectologista Carlos Roberto Alves ? coordenador da pesquisa e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) ? explica que pacientes que utilizam drogas como maconha e bebida alcoólica podem não responder ao tratamento de aids. "O que observamos é que, dos pacientes que não estavam se beneficiando do tratamento anti-retroviral, pelo menos 30% a 40% usavam drogas lícitas ou ilícitas", disse.
Segundo o médico, quem utiliza drogas tem mais chances de não tomar os remédios adequadamente. "No momento que o paciente estiver sob o efeito da maconha, do craque ou do álcool, por exemplo, ele não vai estar muito preocupado com o horário dos medicamentos", destacou Alves. Além disso, o uso simultâneo da droga com os medicamentos pode alterar a concentração do remédio no sangue do paciente. "Se a concentração ficar abaixo do esperado, o tratamento pode falhar com mais facilidade. Se a concentração ficar maior, pode aumentar os efeitos colaterais", explicou.
Alves explicou que a pesquisa poderá ser usada como referência para a formulação de ações públicas. "Podemos desenvolver intervenções para dar um maior apoio a esses pacientes, um maior suporte psicoterápico, social e tentar remover as barreiras para o sucesso do tratamento", destacou o infectologista.
A pesquisa deve durar aproximadamente 18 meses e será realizada com pacientes do Centro de Referência Estadual para Aids de Salvador (CREAids) e do ambulatório de Aids do Hospital das Clínicas de Salvador.
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