Os preços dos chamados bens de capital, ou seja, máquinas e equipamentos utilizados na produção industrial, estão em patamares normais no Brasil, na avaliação de um estudo divulgado nesta quinta-feira (15) pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo o estudo "Visão do Desenvolvimento", assinado por Fernando Pimentel Puga e Marcelo Machado Nascimento, assessores da presidência do banco estatal de fomento, os preços desses produtos têm subido menos do que a média dos outros produtos no País nos últimos anos e estariam alinhados ao cenário internacional, apesar de terem estado acima do patamar mundial até início dos anos 90.
Os técnicos do banco refutam a afirmação de que os altos preços dos bens de capital no Brasil seriam os responsáveis pelo baixo ritmo de crescimento da economia nas últimas décadas, devido ao menor ritmo de investimentos (formação bruta de capital fixo).
Na visão de alguns economistas, contestada pelos técnicos do BNDES, a redução de investimentos teria se acentuado a partir do final dos anos 70, em decorrência da política de substituição de importações adotada pelo governo na década de 70. Ao reduzir as importações no final dos anos 70, inclusive de bens de capital, o governo teria aberto espaço para o avanço dos preços dos bens de capital no mercado interno. O aumento nos preços desses produtos, por sua vez, teria inibido os investimentos e reduzido a expansão da economia como um todo, conforme essa visão.
No estudo do BNDES, Puga e Nascimento admitem que a economia brasileira cresceu menos do que a média mundial a partir do início dos anos 80, invertendo o observado entre 1966-1981, quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu quase o dobro da média mundial (7,6% e 4,0% ao ano, respectivamente). Entre 1982 e 2002, o Brasil cresceu 2,4% ante uma média mundial de 3,5% e, entre 2003 e 2006, o Brasil cresceu 2,7% ante 4,8% da média mundial.
O trabalho traz um retrospecto da elevação dos preços desde meados dos anos 60, mostrando que entre 1966 e 1975 os preços relativos dos bens de investimento no Brasil "eram mais baixos que na média do mundo, o que indica uma situação vantajosa". A partir de 1976, porém, observou-se uma elevação acentuada do indicador brasileiro. "Isso significa dizer que o preço relativo dos bens de investimento no Brasil, partindo de níveis 30% inferiores ao mundial em meados dos anos 70, chegou a atingir um nível 40% superior ao do mundo" em seu momento de pico, observa o estudo.
A tendência de elevação dos preços internos acima do mercado internacional, porém, começou a se reverter no início da década de 90, com a "forte liberalização comercial implementada no período", o que contribuiu para a convergência entre os preços praticados no mercado brasileiro e o mundial, observam os técnicos do BNDES. "No índice de preços de bens de capital existe uma maior participação de bens comercializáveis com o exterior, que, com a liberalização, passaram a seguir mais de perto os preços internacionais", complementam.
Apesar de, ao longo do trabalho, mostrarem que houve aumento dos preços dos bens de investimento no final dos anos 70 (quando o País criou restrições às importações), e queda nos preços a partir da liberação das importações nos anos 90, o estudo conclui que as "causas da desaceleração dos investimentos brasileiros devem ser buscadas fundamentalmente na redução da demanda, que se seguiu à crise externa dos anos 1980". Ou seja, o baixo crescimento do PIB brasileiro teria resultado das políticas de contenção da demanda e não pelo baixo nível dos investimentos observados nas últimas décadas, na visão dos técnicos do banco estatal de fomento.