Brasília – As receitas de prestação de serviços dos bancos, obtidas em sua maioria a partir da cobrança de tarifas sobre extratos, emissão de talão de cheques e outros, são a terceira maior fonte de lucro líquido do setor. Elas perdem apenas para as operações de crédito e as aplicações em títulos públicos, de acordo com estudo divulgado hoje (20) pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
A pesquisa, intitulada As receitas de prestação de serviços dos bancos, avalia o impacto da cobrança dessas tarifas sobre o lucro dos bancos e sobre a renda dos clientes. Revela que o aumento na cobrança de tarifas bancárias sobre a movimentação dos correntistas está diretamente ligado ao controle inflacionário iniciado em 1994. Esse controle reduziu o lucro com o floating (receitas inflacionárias) e fez com que o setor buscasse outras formas de ganho.
Em 1994, a receita dos dez maiores bancos obtidas com floating, segundo o estudo, foi de mais de R$ 9 bilhões, contra cerca de R$ 890 milhões em 2005. Já as receitas de prestação de serviço (RPS) cresceram de 6,25% em 1994 para 12,7% no ano passado. O aumento foi proporcional ao crescimento do lucro líquido dos 11 maiores bancos do país, que só em 2005 ganharam R$ 23,8 bilhões ? um crescimento de 1.797% em relação aos R$ 1,3 bilhão obtidos em 1994.
De acordo com a técnica Ana Quitéria Nunes, do Dieese, o lucro dos bancos com a cobrança de tarifas já ultrapassa as despesas com o pagamento de pessoal. Em 1994, a participação das receitas de prestação de serviço era 26% superior aos gastos com o pessoal nos 50 maiores bancos. No ano passado, esse percentual subiu para 102%.
Para Ana Quitéria, o aumento "exponencial" dos lucros dos bancos por meio da cobrança de tarifas "é mais uma forma de apropriação do sistema financeiro e exploração da clientela". Ela destaca que "a falta de concorrência entre os bancos e a falta de mobilidade dos clientes são os principais fatores responsáveis pelo excesso de cobrança de tarifas e, conseqüentemente, pelo aumento do lucro dos bancos". E sugere "uma regulamentação dessas tarifas de forma que a sociedade pudesse ganhar também com o lucro dos bancos e não ser penalizada".