Na calada da noite, estudantes islâmicas dispostas a combater a imoralidade invadiram um bordel e seqüestraram sua proprietária, trancando-a no seminário fundamentalista delas na capital paquistanesa, informou a polícia. Autoridades prenderam duas professoras do seminário em conexão com o seqüestro da suposta cafetina e de três parentes dela, inclusive sua neta de apenas seis meses. As estudantes disseram que a cafetina ignorou advertências para fechar o prostíbulo.
Cerca de 200 estudantes usando burcas pretas e carregando varetas de madeira promoveram um protesto na escola no centro de Islamabad exigindo a libertação das professoras presas pela polícia. Abdul Rashid Ghazi, vice-reitor do seminário Jamia Hafsa, ameaçou lançar uma jihad (ou guerra santa) caso as professoras não sejam libertadas até amanhã. A ação, explicou, estava em linha com um edito religioso emitido pelo líder da mesquita Lal Masjid e irmão de Ghazi, Abdul Aziz. "Essas vulgaridades (bordéis) estão destruindo a sociedade e o decreto diz que, nesta situação, a jihad é o único caminho", afirmou ele.
Libertação
Autoridades negociavam com administradores da escola a libertação da cafetina, conhecida como Aunty Shamin, à polícia, mas eles "não estão sendo razoáveis", observou um oficial de polícia que exigiu anonimato. "Eles estão fazendo justiça com as próprias mãos", prosseguiu a fonte.
A estudante Seema Zubair, de 20 anos, contou à Associated Press que um grupo de aproximadamente 30 garotas e dez rapazes entrou no bordel ontem à noite, depois que Shamin ignorou advertências feitas na segunda-feira para fechar o local. O prostíbulo fica a uns cinco minutos de caminhada da mesquita. Os estudantes detiveram Shamin, a filha dela, uma cunhada e uma neta de seis meses, acrescentou. "Não estamos autorizados pelo governo a prendê-los, mas estamos autorizados por nossa religião, porque isso (prostituição) é um mal", disse Zubair. Ela garantiu que Shamin será libertada depois que prometer fechar o negócio.
A mesquita Lal Masjid em Islamabad e seminários associados têm a reputação de pregar uma linha radical do Islã e de terem laços com um grupo militante sunita proscrito, Sipah-e-Sahaba, acusado de ataques sectários contra xiitas. O governo do Paquistão tem se mostrado incapaz de regular milhares de escolas religiosas, conhecidas como madraças, mesmo na capital federal.
