Terminou em confusão a manifestação contra as reformas trabalhista, sindical e universitária hoje na Esplanada dos Ministérios organizada por sindicatos e partidos de esquerda. A tensão aumentou quando cerca de 300 estudantes decidiram invadir o Congresso Nacional e foram contidos pela Polícia Militar. Os jovens entraram no espelho d’água em frente ao Congresso e, gritando palavras de ordem, jogavam água nos policiais que faziam a segurança. Garrafas e latas cheias de água foram atiradas contra os PMs e contra o prédio do Congresso, rachando um dos vidros. Dois jovens foram presos.
Apesar dos pedidos dos líderes da manifestação, os estudantes não saíram da frente do Congresso. A maior parte dos manifestantes seguiu em direção ao Ministério da Educação, mas os estudantes ficaram para trás. A confusão só terminou por volta das 14 horas, quando chegou o batalhão de choque da Polícia Militar, convocado para dar apoio. O choque não precisou entrar em ação. Apenas a presença dos policiais garantiu que os estudantes decidissem acompanhar o restante dos manifestantes, que já estavam no MEC.
Darius Leva Emrani, 19 anos, de São Paulo, e Thiago Madureira Araújo, 23 anos, de Sergipe, presos pela PM, foram levados para prestar depoimento. Durante a manifestação, um carro da Rede Globo de Televisão, que estava estacionado no caminho da marcha, foi amassado. De acordo com a polícia da Câmara, outros dois veículos, um do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) e um particular, também foram danificados.
Cerca de 7 mil pessoas, de acordo com a PM, iniciaram a manifestação na Esplanada dos Ministérios por volta das 10 horas da manhã. Toda uma pista da avenida foi fechada para permitir a passagem dos manifestantes e de três carros de som. O protesto reuniu sindicatos – especialmente das carreiras públicas, como o dos professores das universidades federais e o dos fiscais do trabalho – estudantes universitários e partidos como o PSTU e o P-Sol, ainda em formação, que reúne os deputados federais Luciana Genro e Babá e a senadora Heloísa Helena, expulsos do PT.
Especialmente interessados em criticar as reformas trabalhista e sindical, os manifestantes ficaram por mais de meia hora em frente ao prédio do Ministério do Trabalho, onde fizeram, com discursos e palavras de ordem, críticas ao ministro Ricardo Berzoini e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Berzoini foi chamado de "pelegão" e o presidente Lula de "capacho" e traidor. "A reforma trabalhista quer destruir a capacidade de mobilização e as organizações sindicais, tirar o direito dos trabalhadores. Por isso estamos aqui, para mostrar que não vamos nos organizar", disse Paulo Rizzo, do Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes).
Apesar dos termos usados nos discursos, até a chegada ao Congresso nenhum incidente havia sido registrado. A PM, com cerca de 700 homens, apenas acompanhava a marcha na descida pela Esplanada para evitar o acesso aos prédios públicos. No entanto, quando os organizadores decidiram cruzar em frente ao Congresso para subir a avenida, parte dos manifestantes decidiu descer até a entrada, ameaçando entrar no prédio pela rampa que dá acesso ao Salão Negro, uma das áreas centrais do Congresso, no que foram impedidos pela PM. Um dos jovens tentou correr para chegar na rampa e foi impedido por um dos policiais, sendo levado em seguida para a segurança do Senado. Antes de chegar ao Congresso um grupo de punks fez um manifesto contra a polícia e queimou uma bandeira dos Estados Unidos.
Originalmente prevista para ser uma mobilização contra as reformas, a manifestação abrigou de tudo um pouco. Havia faixas contra a reforma da previdência – já concluída e aprovada -, contra a privatização das universidades, que não está prevista na reforma universitária e até contra a abertura do mercado de petróleo para empresas estrangeiras.
Esse também foi o primeiro ato nacional em que o P-Sol, criado por Luciana Genro, João Batista de Araújo, o Babá, e Heloísa Helena, participa, apesar de ainda não ter obtido assinaturas suficientes para registrar a criação do partido. Durante o trajeto da marcha, integrantes do novo partido aproveitavam para obter mais assinaturas. Luciana aproveitou a oportunidade para vender a posição do P-Sol como um dos partidos que "não se venderam ao governo". "Não vamos deixar que só eles, os irmãos siameses, se apresentem como alternativa em 2006. Vamos propor um projeto novo de País, com os trabalhadores, que passe pela ruptura com o FMI", discursou.