Estudantes de uma das mais conservadoras instituições de ensino superior dos Estados Unidos, a Brigham Young University (BYU), querem que a direção da universidade retire um convite feito ao vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, para fazer uma palestra na formatura no final deste mês.
Críticos na universidade, lembrando da promoção de informações falsas antes da invasão do Iraque e o vazamento de informações no escândalo da CIA, questionam se Cheney é um bom exemplo para os estudantes que se graduam. A universidade privada, controlada pelos mórmons, religiosos conservadores, tem "uma forte ênfase na honestidade pessoal e em cada atitude do indivíduo", disse Warner Woodworth, professor na Faculdade de Administração da BYU.
"Cheney não tem esta atitude", avaliou. Woodworth ajuda a organizar uma petição online. A petição quer que a universidade retire o convite feito ao vice-presidente. Na primeira semana, foram coletadas mais de 2.300 assinaturas, muitas de pessoas que se descrevem como estudantes, alunos ou integrantes da Igreja Mórmon.
A diferença de opinião é rara para uma universidade que foi eleita a mais "sóbria como uma pedra" escola de ensino superior durante nove anos no ranking anual de universidades da Princeton Review. Os estudantes da BYU aderem a um código de honra restrito, que proíbe todos de beber café, vestir bermudas e camisetas. Os 30 mil estudantes da universidade muitas vezes evitam sair pelo campus para caminhadas, e deixam os gramados vazios.
Muitos dos estudantes pertencem à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Mas a estudante Diane Bailey, que liderará um protesto na quarta-feira contra a visita de Cheney, diz que os estudantes locais não são "robôs conservadores".
Bailey e outros estão irritados com o papel de Cheney em promover provas falsas que levaram os EUA a invadirem o Iraque. Eles também lembram a proximidade de Cheney com o escândalo de vazamento da identidade de uma agente da CIA, central de inteligência, no qual seu chefe de gabinete, I. Lewis "Scooter" Libby, foi considerado culpado por perjúrio e obstrução da Justiça.
Agenda
A palestra de Cheney na BYU é o primeiro dos dois eventos dos quais ele deverá participar nesta primavera. O segundo á outra palestra na Academia Militar de West Point. Ambas são instituições onde Cheney deveria esperar uma recepção calorosa, disse Woodworth. O estado de Utah, onde está a BYU, deu forte apoio à administração, ao oferecer a maior margem de votos nas eleições de 2000 e 2004 ao presidente George W. Bush. No Condado de Utah, onde fica a sede da BYU, a chapa Bush-Cheney obteve 85% dos votos em 2004.
Richard Davis, professor de ciências políticas e conselheiro para os democratas na universidade, diz que a divergência provocada pela visita de Cheney, entre escola e igreja, significa que os fiéis querem que a instituição seja politicamente neutra. "Ele deveria ser convidado a vir. Ele deveria ser convidado a falar. Mas não dêem um sinal que estamos abandonando nossa neutralidade política", disse Davis. "Não existe Evangelho politizado na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias", afirma. A Igreja Mórmon tem uma política de neutralidade e faz uma declaração anual, no qual afirma que os dois maiores partidos políticos incluem ideais que os fiéis podem abraçar.
Historicamente, a dissensão nunca foi bem recebida na BYU. No ano passado, um professor da BYU escreveu um artigo no qual se opôs à opinião da Igreja Mórmon, que é contra casamentos gays. Em resposta, a BYU informou que não renovaria o contrato de Jeffrey Nielsen.
O escritório de Cheney informou que sua palestra não terá um tema político. A universidade aprovou uma permissão para um protesto dos democratas na quarta-feira e tenta encontrar um local para um segundo protesto que deverá ser feito no dia da palestra de Cheney. "A neutralidade política não significa que não deva ocorrer nenhuma discussão política", diz Carri Jenkins, a porta-voz da BYU.