Longas jornadas de trabalho + pressão + baixa remuneração + indisciplina dos alunos + pouca valorização da carreira + falta de reconhecimento + frustração = estresse. A equação parece simples, mas a situação é complicada para muitos professores, tanto da rede de ensino pública quanto da particular. Eles sofrem com essa doença moderna, que causa esgotamento emocional, irritabilidade, nervosismo, ansiedade, entre outros sintomas. E, se o professor não está bem, a qualidade do ensino é prejudicada.
Uma pesquisa realizada pelo Sindicato dos Professores no Estado do Paraná (Sinpropar) com 162 professores de escolas particulares apontou que o estresse atinge 52% dos docentes, sendo o pior vilão na categoria. O mesmo acontece com os professores que atuam no sistema público de ensino, segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Paraná (APP-Sindicato).
A professora Maria Alice Silva Kyt dá aulas de inglês em um colégio estadual de Curitiba. São 31 anos de carreira. Ela, que cumpre uma jornada de trabalho de 40 horas semanais, possui turmas nos ensinos fundamental e médio. Maria Alice precisou se afastar das salas por causa do estresse. Tirou uma licença médica e, recentemente, renovou-a por mais 30 dias. Mas a professora não se afastou das atividades por completo. Ela cumpre a jornada na escola, mas realizando outras tarefas.
Mesmo assim, sentiu a diferença por não ter que lidar com o estresse existente dentro das salas de aula diariamente. ?A gente sente muita pressão pelos resultados, porque os alunos precisam ser aprovados. Mas nós temos que lidar com diferentes níveis de conhecimento, além do grande número de alunos?, afirma.
Tanto a professora quanto as instituições que representam a categoria reforçam outro ponto problemático: a necessidade de levar trabalho para casa. ?Por mais que tenhamos um horário para isto, ainda é muito pouco. As provas de somente uma turma eu corrijo em 50 minutos; eu tenho 16. E ainda temos que fazer um relatório de todas as atividades?, relata Maria Alice.
Falta tempo para descanso
O estresse entre professores ocorre também devido à remuneração. Por causa dos baixos salários tanto no sistema público quanto no particular, muitos se submetem a até três turnos por dia e ainda não podem esquecer das atividades profissionais que levam para casa. ?Mesmo quando possui 15 minutos de intervalo, muitas vezes gasta este tempo orientando informalmente os alunos?, afirma Sérgio Gonçalves Lima, presidente do Sinpropar.
Associado à falta de tempo para uma alimentação correta e a prática de exercícios, o estresse também está causando problemas cardíacos nos professores, segundo o presidente da APP-Sindicato, José Lemos.
Sem ajuda médica, a doença pode evoluir para a Síndrome Burnout, que gera atitudes e condutas negativas, resultando em sentimento de fracasso. A solução do problema, para os sindicalistas, seria a valorização da carreira. (JC)